À sexta ou
mesmo em cima do acontecimento à quinta-feira, é difícil neste blogue não falar
do Quadratura do Círculo. Não pode ficar-se indiferente à qualidade da reflexão
aí produzida e sobretudo ao ambiente de debate que por vezes se instala. O
debate de ontem não fugiu à regra e não apenas pelo apimentado da interpelação
a António Lobo Xavier (ALX) sobre os eventuais conflitos de interesses
resultante da aceitação do convite para presidir ao grupo de trabalho de revisão
do IRC. Mas essa questão face à pertinência dos outros temas é uma simples
minudência.
Com base na
declaração de fim de ano do Presidente da República e do pedido de fiscalização
sucessiva de três medidas do Orçamento de 2013, o debate acabou por representar
uma das mais lúcidas críticas da inépcia governativa. A análise de José Pacheco
Pereira (JPP) sobre a má relação do Governo com a lei, designadamente a lei
constitucional, foi particularmente contundente. Assim também o foi a perceção
nua e crua de que o confronto entre os dados de 2011 e 2012 que será possível
concretizar daqui a pouco tempo constituirá o melhor exame dos resultados da
governação (sem a interferência do Tribunal Constitucional como regulador das
opções assumidas pelo Governo) e da política de consolidação orçamental
praticada.
Mas o momento
mais relevante da noite acabou por acontecer paradoxalmente numa fração mais
descontraída da conversa, sem reflexão eloquente a suportá-la. António Costa (AC),
além de saudar o regresso ao debate de algumas personalidades da democracia
cristã, referia-se ao facto de agradecer ao Governo o poder estar na sua crítica
frequentemente de acordo com JPP. Este último referia que permanece fiel ao seu
ideário social-democrata e que quem mudou foi o partido e a geração no poder. É
crítico da Constituição mas isso não implica que reconheça o escândalo da sua
menorização por parte do Governo. Depois, JPP e ALX viram-se para AC e louvam a
sua aproximação a princípios como o do respeito pela dívida, a consolidação
orçamental equilibrada. JPP refere, por fim, que se as condições políticas o
permitissem há espaços de convergência nas diferenças que os caracterizam.
Ou seja,
informalmente, uma convergência possível (na área da governação) pareceu
emergir entre o socialista, o social-democrata e o democrata-cristão, tudo isto
obra de um Governo em roda livre e em tão pouco tempo. Mas o desafio da
quadratura do círculo permanece. Como fazer aproximar o PS, o PSD e o CDS das
posições de AC, JPP e ALX? Que transição política poderia ser ensaiada para transformar
a inépcia atual nessa solução? Precisaremos de suportar uma nova rutura
eleitoral para trabalhar a partir das cinzas?
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