(Percentagem da despesa pública no PIB potencial da economia americana)
Na sua modéstia de pretensões, este espaço tem-se
insurgido mais do que uma vez com a debilidade e o enviesamento do debate das
ideias em economia na comunicação social portuguesa, tanto mais frustrante
quanto a história do pensamento económico nos diz que é nestes períodos de turbulência
e incerteza estrutural que ele é mais intenso.
Esta breve reflexão antecede a referência ao que me
parece ter sido um debate acima desse panorama de debilidade confrangedora, o Expresso
da Meia-Noite da passada sexta-feira. O modelo utilizado do confronto entre políticos
com formação económica (Miguel Frasquilho e João Galamba) e a academia
(representada por Luciano Amaral e Pedro Lains) é sugestivo. Galamba, apesar de
nas suas intervenções parlamentares recorrer a uma crispação que nem sempre é
propiciadora de melhores condições de debate (Carlos Costa que o diga numa sessão
parlamentar não plenária), teve uma prestação bastante convincente, bem mais
incisiva do que os representantes da academia. A separação feita por Galamba do
êxito da ida aos mercados do não êxito do processo de ajustamento baseado estritamente no agravamento da
austeridade acabou por ser a ideia mais marcante do debate, que as intervenções
dos restantes três elementos não conseguiram apagar. Gostaria de perceber o
argumento de Pedro Lains segundo o qual a maior produtividade da evolução da
economia espanhola da última década face à da economia portuguesa se deve a uma
questão etária, induzida pela maior intensidade da população estrangeira que
chegou ao país vizinho. Estes historiadores económicos lembram-se de cada
coisa!
Contrastando com a debilidade do debate nacional, o
confronto de ideias em torno da economia americana e da sua pretensa crise
fiscal continua vivo.
Um exemplo recente é o alerta de Krugman segundo o qual a
utilização do peso da despesa pública no PIB como indicador do grau excessivo
ou insuficiente de intervenção pública deve ter em conta o estado do ciclo económico.
Mais concretamente, o que Krugman nos diz é que, em recessão ou em períodos de
recuperação mais lentos do que o esperado (a situação atual), o simples cálculo
do peso da despesa pública no PIB pode gerar a ilusão de um crescimento dessa variável. Propõe, nesse sentido, que a despesa pública seja calculada em
função do PIB potencial da economia e não do seu PIB efetivo, já que este último
está ferido pelo estado recessivo da economia.
O gráfico que abre este post descreve o comportamento da
despesa pública americana em relação ao seu produto potencial, o que constitui
uma medida mais imune às influências do ciclo económico.
E, surpreendentemente, a utilização do mesmo critério
permite concluir que os quatro primeiros anos da governação Obama foram caracterizados
por uma descida contínua do peso da despesa pública no produto potencial.
Os ventos sopram favoráveis para o debate das ideias
mesmo que por cá a academia assobie para o lado. Uma nova revista de
revigoramento das ideias keynesianas acaba de surgir, Review of Keynesian Economics, cujo número zero está disponível on line.
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