As
festividades de passagem de ano, designadamente a sempre impressionante
concentração de Times Square em Nova
Iorque, coincidiram este ano com uma das mais violentas negociações entre
democratas e republicanos de que há memória. Largamente influenciada pelo facto
da economia americana não estar longe de atingir o limite legal de
endividamento a que os governos americanos estão sujeitos (algo que vem dos
tempos da 1ª guerra mundial), a negociação era nessas condições bastante
desfavorável para a parte que assume a governação, agravada pela superioridade
republicana no Congresso.
De abismo em
abismo … até ao precipício final poderia ser uma máxima que os mais pessimistas
poderiam assumir reportando-se aos resultados da negociação. O prenúncio de que
a governação de Obama no seu segundo mandato poderia ser penosa dados os
compromissos que terá de assumir para vencer a inflexível ideologia republicana
teve na negociação alguma confirmação. É verdade que será injusto classificar o
resultado da negociação como uma derrota para Obama. Mas não terá ganho o que
se havia proposto. A complexidade da negociação aconselha alguma cautela na avaliação
dos seus resultados. Pelo que se depreende da multiplicidade de interpretações
que estes resultados suscitaram, Obama parece ter conseguido apenas uma receita
resultante de 600.000 milhões de dólares de deduções fiscais retiradas aos
estratos de rendimento mais elevados (suspendendo os célebres cortes fiscais de
Bush) e não os 800.000 milhões que havia fixado como meta. Essa quebra de
receita (que a aritmética macroeconómica de Krugman estima em 0,1% do PIB
americano) parece ter sido a contrapartida aceite por Obama para, pelo menos,
adiar os cortes de alguns benefícios sociais, por exemplo na segurança social
ou no Medicare.
O primeiro
abismo parece ter sido evitado. Um segundo poderá emergir numa nova ronda
negocial. Esperemos que a capacidade de negociação de Obama esteja no seu
melhor para evitar que a inflexibilidade republicana antecipe o precipício
final.
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