sábado, 5 de janeiro de 2013

40 RESISTENTES



A edição comemorativa dos 40 anos do Expresso é certamente um acontecimento em si, sobretudo pela sistematização de um período crucial da vida portuguesa, coincidente em larga medida com a instalação e as vicissitudes da democracia em Portugal.
A estrutura da edição e os testemunhos que a atravessam são um efetivo repositório histórico de 40 anos intensos, de expectativas e desilusões, com diferentes ciclos de Voice (intervenção) e Exit (abandono), de participação ativa e crispada na vida pública e de deceção, para invocar aqui uma vez mais categorias tão caras a um dos inspiradores deste blogue, Albert Otto Hirschman. Mas, com a sua qualidade irrepreensível que não deslustra na comparação com outros semanários por esse mundo fora, o Expresso não deixa de ser o barómetro e expressão de uma certa sociedade portuguesa. O Expresso não é um jornal de País. O Expresso é um jornal de apenas um naco de País, aquele que gira fundamentalmente em torno do poder, centralmente concentrado. Imagino que empresários, intelectuais, agentes sociais e culturais que resistem e se afirmam por esse País mais desconhecido se sintam parcialmente frustrados confrontando-se com a visão dos 40 anos deste País que o Expresso bem interpreta. Essa frustração não é mais do que um produto lateral da não coesão nacional e do seu afunilamento em torno de uma certa corte. Aliás, um problema que a democracia não resolveu.
Mas com esta distância de leitura, a edição vale um fim de semana de leitura atenta. Há vários motivos de interesse. Por exemplo, uma crónica muito estimulante de Clara Ferreira Alves centrada na experiência do Barefoot College e sobre perspetivas inovadoras de abordagem à pobreza (inovação social). Ou, por exemplo, o cunhar de um novo termo, contundente e direto como convém, sobre a conceção míope dos ajustamentos em curso: austericídio e a expressão é de Felipe Gonzalez.
Mas a minha escolha vai para a aposta do caderno ATUAL na escolha de 40 novos talentos na escala dos 25 aos 40 anos, que designo de os 40 resistentes. Há mais por certo. Mas são seguramente um indicador de que apesar de tudo, apesar da desvalorização da cultura e da voracidade com que o efémero tem atravessado a sociedade portuguesa, apesar dos convites à diáspora, apesar da precariedade, há quem projete criativamente a sociedade portuguesa para o futuro.
O título do ATUAL é “celebramos os 40 anos do Expresso com uma seleção de jovens que vão dar que falar”. Não tenho competência para discutir a seleção realizada. É provável que padeça do mesmo afunilamento do jornal. É provável também que nem todos venham a estar na crista da onda, não seguramente uma onda do tipo Nazaré, mas uma onda bem mais modesta. Mas resistir a afirmar a criatividade em todo este contexto constitui em si um facto esperançoso. E nos últimos tempos bem precisamos desse tipo de estímulos positivos.

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