A edição
comemorativa dos 40 anos do Expresso é certamente um acontecimento em si,
sobretudo pela sistematização de um período crucial da vida portuguesa,
coincidente em larga medida com a instalação e as vicissitudes da democracia em
Portugal.
A estrutura
da edição e os testemunhos que a atravessam são um efetivo repositório histórico
de 40 anos intensos, de expectativas e desilusões, com diferentes ciclos de Voice (intervenção) e Exit (abandono), de participação ativa e
crispada na vida pública e de deceção, para invocar aqui uma vez mais
categorias tão caras a um dos inspiradores deste blogue, Albert Otto Hirschman.
Mas, com a sua qualidade irrepreensível que não deslustra na comparação com
outros semanários por esse mundo fora, o Expresso não deixa de ser o barómetro
e expressão de uma certa sociedade
portuguesa. O Expresso não é um jornal de País. O Expresso é um jornal de
apenas um naco de País, aquele que gira fundamentalmente em torno do poder,
centralmente concentrado. Imagino que empresários, intelectuais, agentes
sociais e culturais que resistem e se afirmam por esse País mais desconhecido
se sintam parcialmente frustrados confrontando-se com a visão dos 40 anos deste
País que o Expresso bem interpreta. Essa frustração não é mais do que um
produto lateral da não coesão nacional e do seu afunilamento em torno de uma
certa corte. Aliás, um problema que a democracia não resolveu.
Mas com esta
distância de leitura, a edição vale um fim de semana de leitura atenta. Há vários
motivos de interesse. Por exemplo, uma crónica muito estimulante de Clara
Ferreira Alves centrada na experiência do Barefoot College e sobre perspetivas
inovadoras de abordagem à pobreza (inovação social). Ou, por exemplo, o cunhar
de um novo termo, contundente e direto como convém, sobre a conceção míope dos
ajustamentos em curso: austericídio e a expressão é de Felipe Gonzalez.
Mas a minha
escolha vai para a aposta do caderno ATUAL na escolha de 40 novos talentos na
escala dos 25 aos 40 anos, que designo de os 40 resistentes. Há mais por certo.
Mas são seguramente um indicador de que apesar de tudo, apesar da desvalorização
da cultura e da voracidade com que o efémero tem atravessado a sociedade
portuguesa, apesar dos convites à diáspora, apesar da precariedade, há quem
projete criativamente a sociedade portuguesa para o futuro.
O título do
ATUAL é “celebramos os 40 anos do Expresso com uma seleção de jovens que vão
dar que falar”. Não tenho competência para discutir a seleção realizada. É provável
que padeça do mesmo afunilamento do jornal. É provável também que nem todos
venham a estar na crista da onda, não seguramente uma onda do tipo Nazaré, mas
uma onda bem mais modesta. Mas resistir a afirmar a criatividade em todo este
contexto constitui em si um facto esperançoso. E nos últimos tempos bem
precisamos desse tipo de estímulos positivos.
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