terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A DANÇA DAS PROJEÇÕES



Comentadores e analistas mais próximos das posições governamentais aproveitam até à exaustão todos os indícios possíveis de uma retoma mais ou menos imprevista da economia portuguesa. Foi o caso nos últimos dias da última atualização dos indicadores avançados OCDE, segundo os quais as perspetivas da recessão já prolongada da economia portuguesa se poderem dissipar ainda em 2013 ganharam força. Os mais audazes desses comentadores chegaram mesmo a utilizar tal informação como indiciadora de que afinal o comportamento recessivo da economia portuguesa estaria a ser sobredimensionado pelos adversários da “austeridade custe o que custar”.
Mas a dança das projeções é uma dança ingrata. Tem passos imprevisíveis e os mais incautos são frequentemente apanhados em contramovimento.
O relatório de inverno do Banco de Portugal, hoje publicado, encarregou-se de focar as coisas de novo em 2013 e a população portuguesa, mesmo que afastada da leitura de tal documento, assinaria por baixo. Ou seja, nas condições atuais, 2013 será a fonte de todos os nossos problemas, equivalendo 2014 a um futuro já longínquo, por mais paradoxal que isso possa parecer. A queda projetada para o PIB em 2013 atinge 1,9%, bem longe do 1% antecipado pelo Governo para suportar o OGE 2013. E o que é mais preocupante nessa projeção é o facto de ser a formação bruta de capital fixo a componente que apresenta a mais elevada taxa de diminuição. Com o investimento a diminuir a este ritmo, a bondosa estimativa para o crescimento do PIB em 2014 do Banco de Portugal tem de admitir que as exportações continuarão a ser o motor dessas perspetivas de reanimação, acompanhadas de alguma recuperação do ritmo de crescimento do investimento.
O Banco de Portugal é explícito na referência de que se limitou a projetar as medidas do OGE 2013 (pressupõe-se, por isso, que os malfadados cortes de 4.000 milhões de euros estarão fora dessa projeção). A bondade da projeção, anunciando um esperançoso crescimento do PIB de 1,3%, tem de ser relativizada, primeiro, pela destruição de produto verificada até ao momento (que não é pequena) e continuará, depois, dependente da possibilidade do mercado externo continuar a acolher não só a resiliência mas também a novidade das nossas exportações.
Esta focagem do mercado externo exige alguma atenção. Tudo leva a crer, o que será positivo, que a economia portuguesa tenderá a aumentar o coeficiente “Exportações/PIB”. Mas o ambiente da economia mundial em que tal transformação irá ocorrer merece acompanhamento. Entre várias dimensões a ter em conta, o Financial Times dos últimos dias (no blogue Alphaville) discutia o tema do “estranho mundo das taxas de juro negativas”. E aqui como se sabe os economistas dividem-se: aos que pensam que esse contexto precederá necessariamente o crescimento, contrapõem outros, realisticamente, que esse valor das taxas reflete as perspetivas de crescimento anémico. Voltaremos ao assunto.

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