domingo, 6 de janeiro de 2013

XAVIER SEM TRAPALHADAS


“Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Recorro a um velho ditado popular para revisitar a muito luso-portuguesa polémica em torno da recém-nomeada Comissão de Reforma do IRC liderada por António Lobo Xavier (ALX).



A confusão foi instalada por uma suspeição lançada por figuras do Bloco de Esquerda, sempre ávidas no seu afã justiceiro e moralista e sempre pródigas num marketing de imagens chamativas. Enquanto Ana Drago logo veio falar de raposas e galinheiro, também João Teixeira Lopes (JTL) aproveitou a oportunidade para sair da toca e zurzir nos grupos económicos (não sem repisar, à sua boa maneira, o desejo de salvaguardar a pessoa de ALX – então e Miguel Frasquilho, por exemplo?).
 
Depois veio o inevitável alastramento do tema em alguma imprensa e nas redes sociais. Sempre privilegiando o fácil. Como se pudesse ser justificável a ideia de uma completa equivalência entre transparência e virgindade, quando a verdade é que a primeira deve ser um pressuposto de toda a gestão (designadamente pública) e a segunda tende frequentemente a funcionar como uma das razões para que o interesse público seja empalmado ou capturado por interesses particulares.
 
Entendamo-nos: a prática de ALX enquanto advogado na área fiscal e a sua experiência, quase sempre não executiva, enquanto administrador de empresas somam-se – não se subtraem! – à especialização e conhecimento que adquiriu na matéria em causa. Suspeito largamente de virgens em idade adulta e, sobretudo, acho tal qualidade inútil para abordar adequadamente, e em moldes de aconselhamento, assuntos de natureza amorosa ou sexual.
 
Quanto a transparência, a síntese do processo – tal como foi feita pelo secretário de Estado Paulo Núncio – parece assegurar o seu essencial cumprimento: “apresentação das linhas gerais da reforma até fevereiro de 2013, apresentação do anteprojeto até final de junho, consulta pública até final de agosto e entrega do projeto final da reforma ao Governo até 1 de outubro de 2013”. Contanto que o Governo dure!

Mas há um ponto em que as achegas de JTL têm provimento: a existência de uma nova trapalhada. A TVI caraterizou-a como uma “nova brecha aberta entre ministérios das Finanças e da Economia” e a SIC referiu-se-lhe sublinhando que o “ministro da Economia desiste da ideia de baixar IRC apenas a novos investimentos”. De facto, Álvaro – que tão lampeiro admitia, há pouco mais de dois meses (26 de outubro), que o Governo ia propor à Troika a redução de 10% do IRC para as empresas com lucros acima dos 3 milhões de euros – veio agora contentar-se com a mera declaração de que “acho fundamental que, a médio prazo, haja uma descida das taxas do IRC significativa, muito significativa para todas as empresas”. Mas isto é apenas o Governo que temos, um problema centrado na dupla Pedro/Vítor e a que Paulo ainda não sabe se e como poderá escapar…

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