Tempos houve, já razoavelmente longínquos, em que se impôs em Portugal
um projeto mais ou menos coletivamente consensualizado. Ficou-nos no
imaginário, desde então, a famosa ideia de um programa centrado em 3 D’s
(democracia, descolonização e desenvolvimento), mesmo que depois a prática tenha
resultado em que todos fossem deficientemente concretizados e desigualmente sucedidos…
Quase quatro décadas depois, o País perdeu largamente a sua independência
e está entregue à pequenez de regentes servis em relação a interesses externos
e/ou obscuros. Que, com tal não satisfeitos, ainda acumulam outros desvios.
Como é o caso, em Passos, da torpe ostentação de um destino único para Portugal,
igualmente definível em 3 D’s: delírio, deturpação e desaforo.
Delírio, como anteontem no debate fechado à sociedade civil: “o
ciclo recessivo deverá abrandar durante o ano de 2013, face ao ano anterior, e
consequentemente ceder lugar ao início de um ciclo de expansão económica, pondo
de lado os receios de enfrentar uma espiral recessiva”. No dia em que o Banco
de Portugal revê em baixa as nossas expectativas de crescimento económico, nada
menos do que a visão de “um ciclo de expansão económica” no horizonte, a ser aliás
somado à “necessidade de projetar um alívio fiscal permanente para futuro”…
Deturpação, como ontem no Palácio do Eliseu: “Precisamos de levar
mais longe a estratégia, que já iniciamos, de regresso a mercado. Procuraremos,
como não pode deixar de ser, fazer emissões de longo prazo e obter junto dos
nossos parceiros o apoio necessário que nos permitirá fazer esse regresso a
mercado de uma forma mais bem-sucedida. (…) Nós sempre previmos que Portugal
regressasse aos mercados em termos de médio e longo prazo ao longo do ano de
2013. O que nós pretendemos é fazer um retorno a mercados em condições que nos
garantam as melhores taxas de juro.” Depois de fendas sucessivas e crescentes nas
estimativas económicas e nos anúncios de recuperação e bonança, nada menos do
que falar pomposamente de um regresso aos mercados quando já é sabido que ele sempre
se poderá fazer com a ajuda divina e os devidos contributos alheios…
Desaforo, como hoje na Assembleia da República: “Estamos próximos
de vencer a situação de emergência”. Num quadro em que a crise da dívida
soberana na Europa parece não ter ainda batido no fundo mas em linha com a pseudorrevelação
dessa “nova fase que com propriedade podemos designar de pós-troika”, dita “tributária
da ideia de cumprimento por parte de Portugal das suas obrigações
internacionais”, nada menos do que uma inominável proclamação de “não retorno”…
Não devia valer tudo!
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