domingo, 27 de janeiro de 2013

DONA CANÔ

 
Procuro hoje redimir-me de uma falha involuntária: o esquecimento de aqui referenciar, em devido tempo, a morte de uma grande senhora. No passado dia de Natal, na sua casa de Santo Amaro da Purificação no Recôncavo Baiano, morreu aos 105 anos D. Claudionor Viana Teles Veloso, conhecida em todo o Brasil como Dona Canô. A mesma daquele popular refrão que diz: “Dona Canô chamou, eu vou”…
 
Da sua prol de oito constam Caetano, de quem gosto muitíssimo, e Bethânia, de quem também gosto bastante. Assim explicou um dia, com a determinação que a imagem abaixo patenteia, o seu orgulho neles: “Porque eles são ótimos filhos, amigos, irmãos, parentes. Então, é muita coisa. Aí tem. Mas deles serem artistas, nem de serem essa glória, não tenho orgulho disso não. Tenho orgulho porque eles são filhos mesmo.”

 
Deliciosas, as referências quase desprendidas de Dona Canô sobre um (“Caetano, tudo que tocava no rádio, ele aprendia – era uma coisa horrível!”) e a outra (“Faziam apresentações nas datas de festa do colégio e ela tomava parte (…) mas, na hora de cantar, não gostavam porque ela tinha voz muito grossa. (…) Hoje… até é uma ironia isso, né?”).
 
 
Correu mundo um ternurento excerto gravado (imagem acima) com os três juntos a cantarem a “Oração da Mãe Menininha” que a filha compôs. E que Dona Canô encerra com um “muito comovente!”, vindo lá bem do fundo de si. Talvez já se imaginando longe desse amado terreiro baiano – o “cantuá” (Gantois), onde tá “a estrela mais linda”, “o sol mais brilhante”, “a beleza do mundo”, “a mão da doçura”, “o consolo da gente”, “a Oxum mais bonita” – e a ser mandada por Olorum para “tomar conta da gente e de tudo cuidar”…

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