O país parece suspenso do futuro pronunciamento
do Tribunal Constitucional (TC). Apesar de Passos Coelho ter visto (com lentes
de largo alcance) luz ao fim do túnel apesar do Tribunal Constitucional, o
desatino do Secretário de Estado do Orçamento, projetando a repercussão
internacional de eventuais inconstitucionalidades do Orçamento de 2013, ilustra
bem a margem de risco a que o Governo voluntariamente se entregou.
E não se trata de um pronunciamento qualquer
do TC. O acórdão de 2012 não pode ser ignorado em termos de coerência. Trata-se,
por isso, de uma segunda edição, agora com outro contexto e com uma carga
fiscal ainda mais brutal. Madame Lagarde pareceu surpresa pelos riscos da
inconstitucionalidade. O que significa que a informação dada pelo Governo às
instituições que integram a Troika teve lacunas, o que vem claramente na linha
de uma pouco sensata estratégia de (sobre) aplicação do memorando.
Mas no centro de todo o foco da sociedade
portuguesa nas questões da (in) constitucionalidade do OE 2013 está inequivocamente
a questão da carga fiscal. Para dramatizar ainda mais a questão, o Diário Económico
fez eco de um estudo da consultora KMG (a Ernst & Young costuma ser a mais
badalada nestas matérias) que ao que se sabe analisa comparativamente a carga
fiscal portuguesa com as cargas similares da Espanha, Itália, França, Reino Unido
e Alemanha. O estudo não é conhecido, pelo que não é sensato proceder a grandes
análises. Mas o que ressalta dos resultados conhecidos é a insuportabilidade de
alguns casos-tipo de famílias e indivíduos portugueses apresentarem no contexto
daqueles países as mais altas cargas fiscais identificadas pelo estudo.
Já aqui sublinhei repetidas vezes a corrosão
democrática que esta perceção provoca na população portuguesa. Suportar uma
carga fiscal desta magnitude e assistir em simultâneo a confiscos de direitos e
expectativas legalmente alimentadas e à instabilidade da oferta de serviços públicos
degradará irreversivelmente a coesão, corroendo-a. Para além disso, apesar
desses indicadores de carga fiscal elevada, o sentimento de desigualdade está
instalado. Ou essa carga fiscal é pouco redistributiva ou as políticas públicas
são também reduzidamente distributivas.
Qualquer alternativa política que brote ou
seja determinada pela rutura política a que chegaremos (é uma simples questão
de tempo) não pode ignorar esta questão. As novas escolhas públicas conducentes
ao redimensionamento das funções do Estado, designadamente as sociais, é pela
dimensão da carga fiscal e pelo seu alcance distributivo que devem começar. Mas
reconheço que pensar contra a corrente cansa.
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