segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

AINDA A CARGA FISCAL



O país parece suspenso do futuro pronunciamento do Tribunal Constitucional (TC). Apesar de Passos Coelho ter visto (com lentes de largo alcance) luz ao fim do túnel apesar do Tribunal Constitucional, o desatino do Secretário de Estado do Orçamento, projetando a repercussão internacional de eventuais inconstitucionalidades do Orçamento de 2013, ilustra bem a margem de risco a que o Governo voluntariamente se entregou.
E não se trata de um pronunciamento qualquer do TC. O acórdão de 2012 não pode ser ignorado em termos de coerência. Trata-se, por isso, de uma segunda edição, agora com outro contexto e com uma carga fiscal ainda mais brutal. Madame Lagarde pareceu surpresa pelos riscos da inconstitucionalidade. O que significa que a informação dada pelo Governo às instituições que integram a Troika teve lacunas, o que vem claramente na linha de uma pouco sensata estratégia de (sobre) aplicação do memorando.
Mas no centro de todo o foco da sociedade portuguesa nas questões da (in) constitucionalidade do OE 2013 está inequivocamente a questão da carga fiscal. Para dramatizar ainda mais a questão, o Diário Económico fez eco de um estudo da consultora KMG (a Ernst & Young costuma ser a mais badalada nestas matérias) que ao que se sabe analisa comparativamente a carga fiscal portuguesa com as cargas similares da Espanha, Itália, França, Reino Unido e Alemanha. O estudo não é conhecido, pelo que não é sensato proceder a grandes análises. Mas o que ressalta dos resultados conhecidos é a insuportabilidade de alguns casos-tipo de famílias e indivíduos portugueses apresentarem no contexto daqueles países as mais altas cargas fiscais identificadas pelo estudo.
Já aqui sublinhei repetidas vezes a corrosão democrática que esta perceção provoca na população portuguesa. Suportar uma carga fiscal desta magnitude e assistir em simultâneo a confiscos de direitos e expectativas legalmente alimentadas e à instabilidade da oferta de serviços públicos degradará irreversivelmente a coesão, corroendo-a. Para além disso, apesar desses indicadores de carga fiscal elevada, o sentimento de desigualdade está instalado. Ou essa carga fiscal é pouco redistributiva ou as políticas públicas são também reduzidamente distributivas.
Qualquer alternativa política que brote ou seja determinada pela rutura política a que chegaremos (é uma simples questão de tempo) não pode ignorar esta questão. As novas escolhas públicas conducentes ao redimensionamento das funções do Estado, designadamente as sociais, é pela dimensão da carga fiscal e pelo seu alcance distributivo que devem começar. Mas reconheço que pensar contra a corrente cansa.

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