Hoje é um dia de turbilhão de ideias. É difícil
discernir no seio de tal turbilhão.
Em primeiro lugar, os ecos que tenho da sessão
de ontem em torno do futuro período de programação dos Fundos Estruturais
apontam para que se tenha tratado mais de uma sessão para incauto ver do que algo
de preparado, com conteúdo, com incorporação de conhecimento maturado,
mobilizador de recursos e energias. Os testemunhos que recolhi apontam para uma
fragilidade confrangedora de ideias, personalidades, vaidades e sobretudo muito
pouco ecuménica do ponto de vista do espetro de inteligências reunidas. A
preparação da programação parece estar atamancada, reflexo da ausência de
integração da atividade governativa e da fissura atualmente existente entre o
Ministério da Economia e das Finanças.
Em segundo lugar, a pré-bomba dos cortes de
despesa de 4 mil milhões veio à tona com o lançamento para a opinião pública do
estudo encomendado ao FMI. As regularidades já são muitas. O Governo continua
apostado em lançar dinamite primeiro para depois amaciar a opinião pública e
mostrar que é compreensivo, atento às queixas e reclamações. Entretanto não
chega a perceber-se qual é a posição efetiva do Governo. A técnica tem sido
sistematicamente ensaiada. São fugas de informação demasiadas para as
interpretar como simples imprevidências comunicacionais. Trata-se de uma técnica
apurada. A imprevidência estará no ignorar das consequências que tal técnica
provocará no eleitorado.
Em terceiro lugar, agora mudando a reflexão
para a economia americana, aumenta o número de assinaturas reclamando a indicação
de Paul Krugman para Secretário de Estado do Tesouro do novo Governo Obama. Mesmo
a propósito do meu último post. O próprio
Krugman rapidamente se encarregou de desmontar essa impossibilidade: bom
economista, mau administrador e, para além disso, barreira republicana
intransponível. Por outro lado, tudo indica que Obama escolherá um funcionário de carreira com grande experiência de colaboração com o Presidente, Jacob J. Lew. Alan B. Krueger será o próximo Chefe do Conselho de Consultores Económicos.
O poder não está vedado aos economistas. Mas será preferível que
Krugman continue a poder livremente pensar e combater os desvarios da profissão,
por muito que isso incomode o establishment
republicano. A passagem para o poder não é necessariamente a melhor via para
resolver os problemas de transmissibilidade do pensamento económico para a
decisão política. O problema existe e o tema da articulação das pontes entre o
conhecimento e a ação política é apaixonante. Prefiro pensá-lo admitindo que
economistas e políticos mantêm os seus lugares e não invadem os domínios do
outro. Quem saltar a cerca, que se cuide.
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