quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

ACASOS E DISLATES



Enquanto que por cá o Governo discute insolitamente à porta fechada a reforma do Estado, a bondade da colega e amiga de longa data Professora Maria do Pilar Gonzalez colocou-me na órbita de um projeto de investigação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com cofinanciamento da Comissão Europeia: “The European Social Model along the economic crisis and austerity policies – developments, effects and policy issues”.
O projeto pretende retomar a reflexão de uma obra do início dos anos 2000, EU Enlargement versus Social Europe? The Uncertain Future of the European Social Model”, dirigida por Daniel C. Vaughan-Whitehead e publicada pela Edward Elgar, atualmente quadro da OIT e coordenador do projeto agora iniciado.  

A reflexão terá por base a análise e avaliação dos desafios que se colocam ao modelo social europeu na sequência dos problemas estruturais avolumados pela crise iniciada em 2008 e pela incapacidade europeia de consolidar uma saída consistente. E o que é importante é fazê-lo numa perspetiva comparativa, tendo assim em conta os gaps de concretização do referido modelo social europeu observados nos países representados no projeto: Estónia e países bálticos, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Itália, Portugal, Espanha, Suécia e Reino Unido.
Não deixa de ser um acaso a constatação de como estas coisas são discutidas no interior do burgo e nas instâncias europeias. Por cá, discute-se à porta fechada e faz-se tudo para o debate estar à partida inquinado e já dividido. Espero que o projeto seja uma oportunidade para assinalar as particularidades do modelo social europeu nacionalmente projetado. Na minha perspetiva, a grande mudança em matéria de desafios de concretização da agenda social acontece a partir do momento em que o desemprego passa de essencialmente cíclico (recuperável com a recuperação e expansão económicas) a marcadamente estrutural (em grande medida não recuperável com uma possível retoma económica). A dramatização imposta pelo Governo não é séria. Não se pode discutir aquilo que, segundo o primeiro-ministro, deve ser a preocupação fundamental dos Portugueses nos próximos 20 anos num curto espaço de tempo e ainda por cima associado a um alegadamente necessário corte de 4.000 milhões de euros de despesa pública.

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