domingo, 20 de janeiro de 2013

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Masa Serdarevic publicou recentemente (18.01.2013) uma peça no blogue Alphaville do Financial Times que merece alguma discussão, sobretudo porque se articula bem com o tema do meu último post. O título é sugestivo: “All pain and no (productivity) gains” (Apenas sacrifícios sem benefícios de produtividade). A referência de base é um artigo de James Nixon da Societé Générale que ainda não consegui localizar.
Como referi no último post, o pecado original da aposta em curso nas políticas de austeridade é não só acentuar exclusivamente a dimensão de consolidação das contas públicas, mas também fazer depender também exclusivamente o impacto de tais políticas na competitividade das economias assistidas na desvalorização salarial associada.
O texto de Serdarevic problematiza o impacto real das políticas de penosidade impostas às economias assistidas na sua competitividade, analisando o comportamento mais recente da variável de utilização mais corrente, o custo unitário do trabalho (CUT), já diversas vezes analisado neste blogue. Como é conhecido, a utilização do CUT concretiza-se, regra geral, em associação às conhecidas variáveis do emprego, das remunerações médias do trabalho e da produtividade. A melhoria de competitividade associada a uma descida do CUT pode ser conseguida quer por uma descida da remuneração média do trabalho, quer pelo aumento de produtividade. Este último, por sua vez, pode ser obtido pela conjugação do comportamento do produto e do emprego, sendo como é óbvio mais virtuoso quando o aumento da produtividade não implica a queda do emprego, ou melhor dizendo quando pode ser obtido com aumento de emprego.
A análise do gráfico que abre este post evidencia em Portugal uma descida do CUT a partir de 2009, aparentemente interrompida a partir do 1º trimestre de 2012, alinhando a situação portuguesa mais pelo modelo italiano do que pela espanhola, onde a descida do CUT é continuada.
A análise dos gráficos correspondentes à remuneração média por trabalhador e ao emprego mostra que a primeira variável tem também a partir do 1º trimestre de 2012 uma inversão da descida ligeira operada desde 2010 e que o emprego apresenta uma diminuição continuada e inequívoca. Sem surpresa, a evolução da produtividade média em Portugal tem um comportamento caracterizado por uma recuperação observada a partir de 2009, que parece também ter sido interrompido a partir de 2012, não tendo sequer atingido um aumento de 5% face ao ano de 2008.
A reflexão de Nixon e Serdarevic assinala ainda que as melhorias de produtividade foram mais conjunturais do que estruturais. Por outras palavras, foram essencialmente explicadas pelas quedas de emprego do que por outro fator.
Este ponto é que me parece essencial. No caso português, este tipo de análises tem de ser necessariamente complementado por uma dissociação entre os setores de bens e serviços transacionáveis e não transacionáveis, situando-se nestes últimos as necessidades de moderação salarial. Mas mesmo ao nível global em que a reflexão do Alphaville é realizada, as suas conclusões vêm ao encontro do que afirmava no último post. Uma abordagem às melhorias necessárias da produtividade da economia portuguesa não pode limitar-se aos mecanismos da relação entre austeridade, desvalorização interna e descida do CUT. A questão da produtividade da economia portuguesa é um universo complexo onde se combinam dimensões como a transição para perfis de especialização com maior produtividade média, a qualificação do emprego e as questões organizacionais ao nível da empresa e do seu meio envolvente. Para estas matérias a resposta governamental e das instituições internacionais “troikeiras” é nula. O sonho dos 10% para o IRC do ministro Álvaro parece ter ficado também ele suspenso, aguardando os resultados da imaginação criativa fiscal de Lobo Xavier e do seu grupo de trabalho.

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