A abarrotar de trapalhadas, a maioria parlamentar exultou estes
dias com a trapalhice dos seus principais adversários! Até Relvas se voltou a ouvir,
no intervalo de uma das suas milhentas reuniões de negociação com Portas a
propósito da cada vez mais provável não-privatização da RTP…
Mas, despoletadas pelo seu magnífico coordenador da área de Saúde,
as declarações ADSE vindas do lado do PS existiram mesmo e não podem deixar de
ser lidas como altamente enigmáticas (ou conspirativas?). Porque será que um
Partido, já por si só tão envolvido num penoso esforço de retoma de
credibilidade pública, persiste num incorrigível instinto autodestrutivo? Quem terá
tido a brilhante ideia de escolher esse político “tenrinho” chamado Álvaro
Beleza para funções de responsabilidade? Porque terá ele escolhido um momento de
trajetória ascensional da cotação do Partido para ter o seu momento de glória
mediática, logrando fazer duas manchetes suicidas em dois dias seguidos? E porque
haverá tantos militantes “socialistas” com dotes parlapatórios de tal monta que
quase rebentam de verborragia?
Senão vejamos, a título
ilustrativo, como à sempre inspirada veia de José Lello – “a maioria dos funcionários públicos são
eleitores do PS. Se o PSD malhava nos funcionários públicos, o PS também teria
aí de molhar a sopa. Se eles tinham um Moedas, o PS aspiraria a ter, pelo
menos, uns moedinhas!” – se veio juntar a eterna promessa Sérgio
Sousa Pinto – “O futuro da ADSE está a
dilacerar o PS. A ala situacionista-parlamentarista-pós-socialista enfrenta a
ala oficialista-situacionista-ratista-neo-socialista e a nova sensibilidade europeísta-situacionista-ex-socialista-anti-tabagista.
Reclamo um Congresso antecipado.” Convenhamos que melhor seria
difícil…
Anedótico à parte, o certo é que – embora estivessem todos reunidos em
jornadas parlamentares viseenses, e assim por perto uns dos outros – não se conseguiram articular no
sentido de produzirem uma reação consistente à oportuna tirada de Beleza. Rápidos
e ufanos, Zorrinho e Junqueiro logo vieram jurar que “o PS não é a favor da
extinção da ADSE”, de imediato retirando todo o espaço a linhas de intervenção
mais fundamentadas e estruturantes como as de Correia de Campos – “é essencial
encontrar uma solução alternativa à ADSE”, “um mau sistema de saúde, porque não
é integrado” – ou Ana Jorge – “estamos a desviar dinheiro do SNS para o privado
e a ADSE contribui para isso”.
Aqui chegado, não encontro melhor forma de concluir esta deprimente
história do que, após ter utilizado o título da crónica de Pedro Santos
Guerreiro no “Jornal de Negócios”, reproduzir também o seu próprio epílogo
segundo o qual “o PS é um partido do arco da velha”…
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