(Com a devida vénia à companhia preciosa e insubstituível do Bartoom)
A diversidade de reações, interpretações e
dislates sobre o êxito efetivo da ida aos mercados para dívida pública de
maturidade de cinco anos justifica que volte ao assunto, mantendo globalmente a
posição expressa no último post.
Não está em causa o êxito da operação, sendo por
isso natural que o governo tire dela partido. Aliás, não me custa aceitar que
uma operação desta natureza teria tido da máquina de comunicação de um governo
Sócrates em alta um aproveitamento bem superior aquele que o governo atual tem realizado. A
repetirem-se ensaios desta natureza e se as maturidades da dívida atual forem
de facto aumentadas como resulta do pedido realizado pelo governo junto das
autoridades internacionais representadas na Troika, as condições de
financiamento da economia portuguesa terão efetivamente um alívio de pressão. Mas,
e há sempre um mas nestas coisas, não será por isso que a economia portuguesa
se torna menos vulnerável a um qualquer incidente na zona euro que traga de
novo as ameaças de instabilidade à boca de cena, sobretudo se o Banco Central
Europeu e as restantes autoridades comunitárias demorarem tanto tempo a
intervir como o aconteceu face aos primeiros sinais do incumprimento grego. E não
esquecer que a curva de crescimento do peso da dívida no PIB ainda não atingiu
o seu ponto de inflexão descendente. A vulnerabilidade externa não a podemos
evitar. Espera-se que as autoridades comunitárias, incluindo o BCE, cumpram o
seu papel. Assim sendo, quanto mais a evolução da situação interna contribuir
para reduzir a incidência potencial dessa vulnerabilidade externa melhor.
Ora, neste ponto das vulnerabilidades internas
nada mudou. E, sobretudo, o que mais detesto é que nos tomem por parvos. Ora,
na “entourage” mais próxima do governo, com o senhor Borges à cabeça, há
demasiada gente a pensar que somos parvos. Ontem, em declarações já não me
lembro a quem, António Borges vem com a sua indeterminada determinação de
sempre comunicar que, face ao observado, já não será necessária mais
austeridade no plano macroeconómico. Ora, convém não esquecer que não é por
acaso que a operação de ida aos mercados é concretizada no momento exato em que
os primeiros impactos do Orçamento de Estado 2013 na bolsa de todos nós começam
a produzir os seus efeitos, apesar dos riscos de inconstitucionalidade
continuarem a pairar sobre a situação em desenvolvimento. Hoje, a secretária de
Estado Maria Luís Albuquerque põe água na fervura e apressa-se a dizer que os
ganhos conseguidos só o são com a manutenção da austeridade. Pois.
É de facto incrível que alguém projete as
benesses associadas ao êxito da operação de venda de dívida sem ter em conta os
impactos recessivos do Orçamento que começa agora a ser aplicado e o efeito
complementar provocado pelos esperados cortes de 4.000 milhões. O reino da
fantasia persiste, sobretudo quando não há no terreno nenhum fator ou medida
concreto que possa ser reportado à criação de condições de crescimento da
economia portuguesa.
Repito. Toda a máquina de governação tem direito à
sua estratégia de comunicação, mais moderada ou mais efusiva. Mas que não nos
tomem por parvos.
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