domingo, 13 de janeiro de 2013

SUZANNE COTTER



A entrevista de Suzanne Cotter, a nova diretora do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, concedida à jornalista Ana Soromenho na Revista do Expresso deste fim de semana constitui um documento muito relevante para compreender a globalização do movimento artístico e sobretudo a ambição com que Serralves será gerido do ponto de vista artístico no seu próximo ciclo de afirmação.
Vinda de Nova Iorque e de um lugar proeminente na Fundação Guggenheim, Suzanne Cotter apresenta uma experiência notável de passagem por lugares relevantes como o Museu Picasso em Paris, galerias influentes de Londres e o Museu de Arte Contemporânea de Oxford. Este registo e sobretudo a sua rede internacional de artistas, curadores, galerias e outras personalidades no mundo global da arte dão o mote para os futuros ciclos de programação de Serralves. Afinal, trata-se de aprofundar a marca de afirmação iniciada com Vicente Todoli, que como é conhecido transitou de Serralves para a Tate Modern em Londres. A partir de uma segunda cidade, não capital, de pequena dimensão, o projeto de Serralves transformou-se rapidamente num farol do que o projeto de internacionalização da cidade do Porto e da sua Região deveriam ser: um projeto próprio, autónomo e não mimético da internacionalização a partir dos iluminados da capital, construído em função das redes de internacionalização dos seus principais players que não coincidem em muitos casos com os da capital. Como é óbvio, um projeto desta natureza reforça-se naturalmente com lideranças que transportem elas próprias redes pujantes e diversificadas no mundo global da arte como parece ser o caso de Suzanne Cotter.
Mas importa referir que a sua candidatura (não importa se foi ou não sondada previamente) ao lugar de Serralves é também resultado do próprio percurso de programação do Museu e da sua projeção no seio da rede pessoal que agora transporta para o próximo ciclo de afirmação do Museu.
Do que a entrevista permite antever quanto ao futuro, importa sublinhar o facto da nova Diretora não parecer assustada com os cortes de financiamento público. A sua perspetiva de frescura de posições, perfilando-se para trabalhar com a riqueza dos recursos existentes, é promissora e pode trazer criatividade na transição para novos modelos de financiamento.
Para além disso, a sua visão cosmopolita do mundo da arte fá-la pensar em Serralves como a sua Cidade, potenciando as suas próprias redes e comunidade de players, mas evidenciando uma grande curiosidade e apetência por conhecer a comunidade de artistas. O seu propósito de estabelecer um diálogo permanente entre os artistas mais jovens e consagrados à procura de “uma narrativa forte sobre a história da arte nas últimas décadas, explorar o contexto português e mostrar o que é a arte em Portugal agora” pode abrir uma outra maneira de estar de Serralves na Região, sem deixar de estar por isso no Mundo.
Esta é para mim o tema de reflexão mais importante a desenvolver. Equipamentos desta natureza, concebidos com esta ambição (Cotter pretende transformar Serralves num dos cinco lugares de referência no mundo da arte), alicerçados por isso numa lógica de competitividade no mundo artístico global, necessitam também de ser avaliados à luz do que representam como instrumento de política cultural a nível nacional e regional. Há que reconhecer que a compatibilização dos dois campos (o internacional e o nacional/regional) não brota espontaneamente de todos os projetos. O problema é que em países/regiões como Portugal e o Norte, onde não há qualquer arremedo de política cultural, só por coincidência ou simples acaso essa compatibilização é conseguida. Pode ser que alguém de fora, de mente mais fresca e não alinhada com as cristalizações de protagonismo que estes projetos tendem a gerar, possa alargar a envolvência da ação dinamizadora de Serralves, ajudando a projetar internacionalmente outros recursos não circunscritos aos “amigos” de Serralves.
Folgamos que, ainda indecisa entre dois apartamentos (na Foz ou em Matosinhos), se apresente como alguém que adora a natureza e privilegia a relação com o mar: “Dá-me conforto imaginar que posso passear logo pela manhã na praia, enquanto ponho as ideias em ordem e organizo o meu dia a olhar para o oceano”. Suzanne, bem vinda ao Porto, cidade atlântica.

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