terça-feira, 5 de agosto de 2014

A DIREITA PARECE DAR-SE BEM COM O VERÃO …



A expressão é inspirada na crónica de João Miguel Tavares, aliás muito bem contraposta com o último post do meu colega de blogue, que bem aqui assinalou a relevância do que foi conseguido em Bruxelas a propósito da União Bancária e do novo método de intervenção em resgates ao sistema financeiro.
Mas não deixa de ser curioso assistir ao modo como a atual maioria tem passado relativamente a salvo por entre os pingos da chuva, sobretudo depois que a narrativa do pós Troika se esfumou e se percebeu que afinal a recuperação não era tão esfusiante como a pintaram. E metaforicamente até não se tratava de chuva miudinha, mas antes de séria borrasca, pois o caso BES-GES veio mostrar que a transformação do paradigma produtivo em que o futuro do país tem de ser construído será penosa e não será um qualquer relógio político que a fará apressar.
Para que a maioria pareça dar-se bem com os tempos do atual verão, muito contribui a previsibilidade da oposição. Da baratinha tonta em que o Bloco de Esquerda se transformou, à previsibilidade do PCP cujas intervenções poderiam ser esboçadas facilmente com um computador que tratasse a regularidade das intervenções passadas, temos um PS aguerrido para consumo interno, em que António José Seguro se assume como um pitbull de cabelo encaracolado para António Costa e seus seguidores, estando este último a pagar as favas de um calendário político-eleitoral desenhado a preceito em função dos interesses do primeiro. E para cúmulo desta luta interna, o fantasma de Sócrates parece regressar, aliás preparado pelo próprio quando este se mostrou tão agastado pelo modo como a justiça portuguesa tem tratado Ricardo Salgado.
Ou seja, ou pela sua previsibilidade ou porque se tem posto a jeito, a oposição tem criado as condições para que o verão corra de feição à maioria, que parece dar-se bem com o primeiro-ministro a banhos. E o pôr-se a jeito tem até permitido alguns escritos de circunstância, bem arrancados, como é este o que transparece do excerto da crónica de Paulo Rangel no Público:
É já de si um tanto inusitado que alguém publicite a sua disponibilidade para ocupar um cargo executivo, cujo processo de selecção resulta de uma cooptação (do Governo nacional em cooperação com o Presidente da Comissão). O cargo de comissário é um posto que integra um colégio executivo e que obedece a uma designação por via de escolha pessoal. Em muitos dos seus aspectos, a escolha de um comissário tem um óbvio paralelo com a escolha de um ministro, que também faz parte de um órgão executivo colegial. É, pois, bem caso para questionar: o que diriam os meios de comunicação social portugueses de uma personalidade que, em pleno período de formação do Governo, desse entrevistas, escrevesse artigos e se desmultiplicasse em declarações a dizer que se considerava a si própria a pessoa com mais perfil e competência para ser ministro desta ou daquela pasta? Ou até, como de facto sucedeu, com mais perfil e competência para ocupar toda e qualquer pasta? Vale a pena meditar no que diriam de uma atitude desse tipo a generalidade dos observadores e comentadores…
Mas a verdade é que nessa vertigem de auto-promoção ainda se foi mais longe. A dada altura a férrea volição de ocupar o lugar chegou ao ponto, não apenas de exibir as pretensas qualidades próprias, mas de fazer passar como certo que essa seria a genuína vontade do Presidente da Comissão. Ora, que se saiba, ninguém ouviu o Presidente Juncker falar de nomes na praça pública e não é crível nem plausível que tenha mandatado alguém para falar em seu lugar. A única coisa que transpirou, com auras de alguma verosimilhança, foi uma inclinação pela escolha da actual Ministra das Finanças. Que se diria, naquele paralelo da formação de um Governo, de alguém que afirmasse, preto no branco, que tinha de ser ministro porque além do mais, o Primeiro-Ministro queria muito que esse alguém fosse… e só por hipotética teimosia de um putativo parceiro de coligação é que deixaria de ser? Isto, apesar do dito chefe do executivo ter sempre de Conrado guardado o prudente silêncio…”
Ou seja, também na escolha do Comissário Europeu a maioria parece passar sem grandes estragos, neste caso porque outros se puseram a jeito ou em bicos de pés. E para o cidadão comum (ninguém o terá desmentido) até foi Paulo Portas que indicou o nome de Jaime Gama.

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