Volto à conferência de Lindau da passada semana, a qual teve aliás honras de primeira página por parte do “Financial Times” ao referenciar um interessante estudo da alemã Judith Niehues (“Subjective Perceptions of Inequality and Redistributive Preferences: An International Comparison”) que vem trazer alguns elementos novos ao debate sobre as desigualdades reaberto por Piketty: a enorme distância frequentemente existente entre a distribuição real dos rendimentos e a perceção subjetiva dos respetivos diferenciais, o facto de em muitos países se tender a assumir que a estrutura social é menos equitativa do que verdadeiramente é e alguma evidência de que as preferências de política redistributiva serão menos influenciadas pela distribuição efetiva do que pela desigualdade percebida.
O trabalho compara os níveis de rendimento reais e percebidos em 24 países (23 da UE e os EUA), usando para tal a informação económica oficialmente disponível e um inquérito realizado junto de um milhar de pessoas em cada país. Sendo que uma grande conclusão de caráter geral retirada pela autora foi a de um maior pessimismo dos europeus relativamente aos americanos: de facto, e enquanto aqueles (representados na imagem que abre este post pelo caso alemão, ainda assim – e como veremos de seguida – longe de poder ser considerado como correspondendo a uma lógica típica da generalidade dos europeus) subestimam a proporção de rendimentos médios e sobreavaliam o peso dos mais pobres, estes parecem admitir uma distribuição dos rendimentos menos negativamente desequilibrada do que a evidência demonstra (mais de 30% dos americanos apresentam rendimentos pelo menos 60% inferiores à média).
Recomendando vivamente a leitura integral do paper, que apenas padece do facto de ter sido realizado com base em dados de 2009 (potencialmente desatualizados para alguns países mais atingidos pelas consequências da crise destes anos), deixo de seguida dois elementos adicionais de curiosidade dele retirados: por um lado, uma síntese organizada das respostas obtidas junto dos cidadãos de vários dos países europeus, permitindo evidenciar o modo como os mesmos leem o tipo de sociedade em que vivem (das sociedades que se percebem como muito desiguais e largamente enviesadas em termos de baixos rendimentos às sociedades que se consideram relativamente igualitárias (piramidais ou piramidais com exceções) ou às sociedades que se veem como tipicamente de classe média; por outro lado, uma referência específica ao perfil português, um caso em que a desigualdade percebida se situa a meio caminho entre a leitura dominante em alguns países do Leste Europeu e a que define os países mais ricos do Continente e um caso em que a desigualdade percebida se mostra bem superior àquela que a realidade efetivamente mostra.
Sem comentários:
Enviar um comentário