quinta-feira, 14 de agosto de 2014

ORA MEIO A SÉRIO, ORA MEIO A BRINCAR



Um dos principais elementos de avaliação de uma determinada conjuntura económica são os índices de confiança dos empresários ou investidores, habitualmente construídos com base num survey realizado junto de uma amostra de razoável representatividade e temporalmente estável.

Pois no caso da “locomotiva alemã”, e ao longo destes últimos meses, esses indicadores parecem revelar uma sintomatologia atravessada por alguma instabilidade e um certo pessimismo. Vejamos dois de entre os mais relevantes exemplares disponíveis: por um lado (primeira imagem acima), o indicador de clima de negócios na Alemanha, construído pelo IFO (Centro de Estudos Económicos, Munique) de Werner Sinn, recuou pelo terceiro mês consecutivo em julho (identicamente para a avaliação da situação económica em presença e para as expectativas a prazo de seis meses); por outro lado (segunda imagem acima), o indicador ZEW (Centro de Investigação em Economia Europeia, Mannheim) de sentimento económico para a Alemanha registou em agosto a oitava queda consecutiva e a sua maior queda desde junho de 2012 (identicamente para a avaliação das expectativas económicas, atingindo o valor mais baixo registado em dois anos).

Estes números parecem evidenciar um significativo efeito negativo sobre a economia alemã resultante das tensões geopolíticas em curso (especialmente no tocante à crise russo-ucraniana, com as exportações alemãs para a Rússia a caírem 14% no primeiro semestre e sendo sabido que operam seis mil empresas alemãs na Ucrânia), fazendo assim temer uma desaceleração da maior economia da Zona Euro que poderá afetar a retoma no Velho Continente.

Mas a estas preocupações dos especialistas logo se juntaram também as reações, mais ou menos efusivas, por toda essa periferia europeia que tão prejudicada foi pela inflexibilidade das posições dos responsáveis alemãs. Assumindo lógicas mistas de “tristezas não pagam dívidas”, “perdido por um perdido por mil” e “quem com ferros mata com ferros morre”, vejam-se abaixo os bem ilustrativos casos do líder italiano Renzi (que, a braços com a sua própria recessão e as inerentes exigências europeias e alemãs, exprime a Merkel quanto a está a desconhecer) e do fustigado povo grego ironizando (schadenfreude) numa taverna de Atenas com a notícia da observação de um “voo picado” (nosedive) na confiança dos investidores alemães. 

Assim se terá deixado comprovada a marcante complementaridade das possíveis técnicas de apoio à economia. Enquanto os economistas de turno não dispensam os gráficos e quadros com que pretendem traduzir rigorosamente os contornos de uma dada situação, os cidadãos mais criativos contentam-se com o recurso à inigualável força da imagem para não deixarem de elucidar o essencial...

(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)

(Kipper Williams, http://www.guardian.co.uk)

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