sábado, 16 de agosto de 2014

COM A CABEÇA ENTRE AS ORELHAS...


Razões múltiplas e de diversa ordem levaram-me este ano a passar um agosto inédito, conjugando umas férias cá dentro com uma completa permanência a norte. Já vou a mais de meio e, não obstante o desconforto maior decorrente da envolvência noticiosa nacional e o desconforto menor decorrente de alguma instabilidade climática, faço da experiência uma avaliação bastante positiva: carro na garagem, algum exercício entre jogging e bicicleta, praia q.b., umas poucas passeatas, conversas desencontradas, ligações ao mundo a funcionar, desporto variado na televisão (europeus de atletismo por estes dias), sonecas sem regra e leituras em catadupa.

Falando dos livros, de que trouxe um saco cheio de qualidade para muitos gostos e ocasiões, aqui deixo breves indicações eventualmente úteis. Tinha curiosidade e comecei pelo vencedor do último Goncourt – um excelente romance que nos transporta à ambiência da guerra mundial de há 100 anos e que até acaba bem –, mas depois passei a saltitar do ensaio (entre a Europa vista por Soromenho Marques e a literatura europeia lida por Mega Ferreira) para a crónica (entre a última compilação do grande António Lobo Antunes e o Brasil vivido por Alexandra Lucas Coelho), do romance assinado por jovens autores de língua portuguesa (entre um livro que ficara esquecido do já consagrado Valter Hugo Mãe e o segundo de Andréa del Fuego) para o romance de autores transbordantes em imaginação (entre o tempo e a terra em Mia Couto e o tempo do caracol em Luis Sepúlveda) e do sempre relaxante romance policial e de espionagem (entre um Don de Lillo por ler e um John Le Carré que adormecera na fila) para a obrigatória e stressante atualidade financeira (entre a interessante recordatória por duas jornalistas do historial associado ao caso BES – como não relacionamos devidamente tantas coisas e como esquecemos algumas tão depressa! – e o magnífico contributo de Michael Lewis para uma melhor compreensão de como se exponenciou a presente opacidade dos mercados através de compras e vendas à velocidade de microssegundos, o complexo high frequency trading que já representa 70% das transações nos EUA e 40% na Europa).

E assim se vai andando, nunca pior...



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