Refazer de malas, regresso de Caminha no dia da
mudança de ciclos de férias, as velhas rotinas e apenas uns dias de preparação
para a labuta da retoma do trabalho. Retoma que se afigura desafiante, tamanhas
que são as tarefas: fechar propostas para novos trabalhos de avaliação (que
raio de maldição elaborar propostas em tempo de canícula); preparar paper para a Conferência da European Evaluation Society de 30 de
setembro a 3 de outubro sobre avaliação em contextos de complexidade; finalizar
o paper com a Elisa Babo para a
prestigiada conferência da Gulbenkian sobre políticas públicas que nos propõe Mark
Blyth, Paul de Grauwe e outros em 6 e 7 de outubro; preparar intervenção no
Algarve no Fórum do Mar em Portimão a 9 de outubro; conferência na Associação
Nacional de Municípios em Coimbra sobre o tema da dimensão económica da organização
territorial do Estado a convite do Professor António Cândido de Oliveira
(Universidade do Minho) em companhia de Gomes Canotilho e João Ferrão a 15 de
outubro; pensar num livro com o meu companheiro de blogue para tentar recentrar
o debate sobre a economia portuguesa; ufa!
Por isso, com a lufa-lufa do regresso às rotinas
do trabalho e com o neto Francisco a interagir cada vez mais, pouco tempo para
comentar quer a decisão do Tribunal Constitucional e o populismo básico de
Passos Coelho no sempre inenarrável Pontal, cada vez mais parecido com o Chão
da Lagoa.
Ainda sem a leitura do acórdão do TC, não é fácil
compreender que doutrina constitucional pode uma alternativa de governação
contar, tendo em conta que a influência do pacto orçamental nos juízes não
parece clara. Fica pelo menos a ideia de que, duradouramente, o TC não se
compromete com cortes de pensões que não decorram de uma abordagem séria e
estrutural ao tema da sustentabilidade que o atual governo nunca mostrou ser
capaz de dinamizar. O coelho da cartola de envolver o PS na procura dessa solução
global é tão previsível se alinharmos as interpelações ao diálogo feitas pelo
governo, sempre orientadas para entalar o adversário. Só se o PS for franguinho
de aviário é que a jogada resultará para a maioria. Mas o problema existe e só
um grupo de trabalho acima de qualquer suspeita poderá propor ao país esse debate.
Por outro lado, o discurso de Passos Coelho no
Pontal traz-nos a narrativa que começou a desenhar-se com o “não me comprometas”
do resgate do BES. A estratégia não pode ser mais clarinha: entalar o PS com a
comparação BPN versus BES, dar ares de políticos longe dos interesses económicos
(não voltes Relvas, que não serás perdoado), vitimização quanto baste face à
desfaçatez (a expressão é de Pires de Lima) e se a coisa não resultar deixar
dependurado o governador do Banco de Portugal (elogios, elogios, apoios à parte
e já muita gente da maioria se começa a descair criticando o regulador).
Que o PS se deixe entalar no confronto BPN-BES
quando no primeiro caso personalidades de vulto do PSD estavam envolvidos (como
é óbvio colocados no caderninho dos nomes a evitar o contágio) é mais um ponto
nos mistérios da incompetência de ação política que o PS nos tem proporcionado.
Que o PSD consiga passar incólume nas relações entre política e grupos empresariais,
tendo como pano de fundo por exemplo o que se passou nas privatizações será
outro mistério.
É verdade que os dados do 2º trimestre confirmam
que a economia portuguesa terá conseguido travar a hipótese de recessão técnica
(dois trimestres sucessivos com queda de produto), mas o que se passa na União
Europeia com deflação na mira e queda de produto faz temer o pior e aqui maioria
e oposição de alternativa terão bastante matéria para se coçar.
E fecho o post
com o Last Dance de Keith Jarrett e
Charlie Haden como companhia. Que sossego.
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