sábado, 16 de agosto de 2014

UM PONTAL DEMASIADO PREVISÍVEL



Refazer de malas, regresso de Caminha no dia da mudança de ciclos de férias, as velhas rotinas e apenas uns dias de preparação para a labuta da retoma do trabalho. Retoma que se afigura desafiante, tamanhas que são as tarefas: fechar propostas para novos trabalhos de avaliação (que raio de maldição elaborar propostas em tempo de canícula); preparar paper para a Conferência da European Evaluation Society de 30 de setembro a 3 de outubro sobre avaliação em contextos de complexidade; finalizar o paper com a Elisa Babo para a prestigiada conferência da Gulbenkian sobre políticas públicas que nos propõe Mark Blyth, Paul de Grauwe e outros em 6 e 7 de outubro; preparar intervenção no Algarve no Fórum do Mar em Portimão a 9 de outubro; conferência na Associação Nacional de Municípios em Coimbra sobre o tema da dimensão económica da organização territorial do Estado a convite do Professor António Cândido de Oliveira (Universidade do Minho) em companhia de Gomes Canotilho e João Ferrão a 15 de outubro; pensar num livro com o meu companheiro de blogue para tentar recentrar o debate sobre a economia portuguesa; ufa!
Por isso, com a lufa-lufa do regresso às rotinas do trabalho e com o neto Francisco a interagir cada vez mais, pouco tempo para comentar quer a decisão do Tribunal Constitucional e o populismo básico de Passos Coelho no sempre inenarrável Pontal, cada vez mais parecido com o Chão da Lagoa.
Ainda sem a leitura do acórdão do TC, não é fácil compreender que doutrina constitucional pode uma alternativa de governação contar, tendo em conta que a influência do pacto orçamental nos juízes não parece clara. Fica pelo menos a ideia de que, duradouramente, o TC não se compromete com cortes de pensões que não decorram de uma abordagem séria e estrutural ao tema da sustentabilidade que o atual governo nunca mostrou ser capaz de dinamizar. O coelho da cartola de envolver o PS na procura dessa solução global é tão previsível se alinharmos as interpelações ao diálogo feitas pelo governo, sempre orientadas para entalar o adversário. Só se o PS for franguinho de aviário é que a jogada resultará para a maioria. Mas o problema existe e só um grupo de trabalho acima de qualquer suspeita poderá propor ao país esse debate.
Por outro lado, o discurso de Passos Coelho no Pontal traz-nos a narrativa que começou a desenhar-se com o “não me comprometas” do resgate do BES. A estratégia não pode ser mais clarinha: entalar o PS com a comparação BPN versus BES, dar ares de políticos longe dos interesses económicos (não voltes Relvas, que não serás perdoado), vitimização quanto baste face à desfaçatez (a expressão é de Pires de Lima) e se a coisa não resultar deixar dependurado o governador do Banco de Portugal (elogios, elogios, apoios à parte e já muita gente da maioria se começa a descair criticando o regulador).
Que o PS se deixe entalar no confronto BPN-BES quando no primeiro caso personalidades de vulto do PSD estavam envolvidos (como é óbvio colocados no caderninho dos nomes a evitar o contágio) é mais um ponto nos mistérios da incompetência de ação política que o PS nos tem proporcionado. Que o PSD consiga passar incólume nas relações entre política e grupos empresariais, tendo como pano de fundo por exemplo o que se passou nas privatizações será outro mistério.
É verdade que os dados do 2º trimestre confirmam que a economia portuguesa terá conseguido travar a hipótese de recessão técnica (dois trimestres sucessivos com queda de produto), mas o que se passa na União Europeia com deflação na mira e queda de produto faz temer o pior e aqui maioria e oposição de alternativa terão bastante matéria para se coçar.
E fecho o post com o Last Dance de Keith Jarrett e Charlie Haden como companhia. Que sossego.

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