sexta-feira, 8 de agosto de 2014

COSTA E O BES


Na sua entrevista à “Visão” de ontem, genericamente bastante boa, António Costa cometeu a meu ver um erro ao pronunciar-se sobre o caso BES e a solução para ele encontrada com um acento tónico na disputa política. Primeiro, porque o assunto é demasiado sério para ser preferencialmente tratado em tal base, designadamente quando se deixam no ar dúvidas que abrem autênticas caixas de Pandora e serão sempre insuscetíveis de respostas objetivas. Segundo, porque assim não marca a devida diferença em relação ao seu adversário interno e aos seus principais apoiantes, os quais se vão comportando como baratas tontas à procura de razões de afirmação partidária que lhes evitem a remissão ao silêncio que a ignorância recomendaria (veja-se a caricata interpelação de Alberto Martins à ministra das Finanças na Assembleia da República). Terceiro, porque ao nível de credibilidade a que Costa já se situa não é aceitável que critique soluções sem contrapor e avaliar as suas consequentes alternativas.

Quanto ao resto, i.e., ao conteúdo propriamente dito e seu valor facial, pouco haverá a dizer. Exceto sobre a formulação algo peregrina do “conformam-se” que aplica aos outros bancos do sistema, aos pequenos acionistas e aos credores de obrigações subordinadas – cito um excerto: “Se não houver comprador para o Novo Banco, ou o preço for inferior ao valor do empréstimo, os outros bancos têm de reembolsar o Estado. Parece salvaguardar os contribuintes. Mas os outros bancos conformam-se?” – como se essa pudesse ser a questão. Porque, sendo já claro que vão existir múltiplas contendas jurídicas e processos judiciais a rodos – é a vida num Estado de direito! –, essa lógica não levaria também a que se perguntasse se os contribuintes se conformam com a taxação fiscal que lhes impõem ou se os funcionários públicos e pensionistas se conformam com os cortes que sobre eles recaem?

Mas lá que o empréstimo é do Estado e que existe o risco de os contribuintes o virem a suportar no todo ou em parte, isso não deixa de ser verdade. Mas teria sido melhor nacionalizar o BES ou deixá-lo falir? Claro, meu caro António, que esta “não é a solução mágica que nos apresentaram” (os políticos, sublinhe-se, que não o governador do Banco de Portugal), mas foi a melhor possível na circunstância e, como se diz na bola, agora há que levantar a cabeça e ir à procura de melhores resultados nos próximos jogos...

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