(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
A ver se nos entendemos: a solução anunciada para o enorme “cu-de-boi” que foi destapado no BES tem riscos claríssimos, especialmente porque há de provavelmente chegar o dia em que se tornará claro que dificilmente o “Novo Banco” valia os tais 4,9 mil milhões agora injetados e em que se abrirá uma guerra sem quartel sobre quem pagará o diferencial entretanto apurado ou sobre como irá o sistema financeiro português fazê-lo. Mas a dita solução foi, hoje por hoje, a mais pertinente e justa de entre o escasso universo de possibilidades a considerar, sobretudo por ter procurado a salvaguarda de uma adequada hierarquia de interesses e responsabilidades.
Dito isto, a ideia veiculada por João Miguel Tavares no “Público” de “uma nova política” – que corresponderia assim ao “segundo coelho consecutivo que Passos tira da cartola”, sim desse mesmo Passos que dias atrás fazia declarações completamente deslocadas e até contraproducentes sobre o assunto – carece de algumas precisões nada negligenciáveis. A primeira provém da evidência de o principal mérito da solução encontrada estar na mudança legislativa produzida no quadro europeu, designadamente em matéria de resolução bancária. Ou seja, as opções que em 2008 se colocaram a Sócrates, Teixeira dos Santos e Constâncio no caso do BPN não só verdadeiramente não podiam contemplar uma hipótese desta natureza ou similar como também é facto que o problema então surgiu em plena fase aguda da crise financeira internacional e sem que existissem experiências anteriores que pudessem proporcionar algum conforto decisional comparativo – e acertar no totobola à Segunda-Feira...
A segunda precisão decorre do “seu a seu dono” associado à referida mudança legislativa, quer no tocante às posições assumidas pelo governo português em sede de Conselho Europeu quer sobretudo no tocante às posições dos principais grupos políticos nacionais e europeus em sede de Parlamento Europeu – com o PPE e o PSD a enfileirarem atrás dos patrões alemães, desvalorizando inclusivamente as propostas acerrimamente veiculadas por alguns “combatentes isolados”, como a relatora Elisa Ferreira em especial, defendendo com sucesso até ao final uma ordenação de responsabilizáveis que excluísse à cabeça os pequenos depositantes (poucos, e por incrível que possa parecer quase ninguém num PS que se vai entretendo com “acautelamentos” à côté exigidos em voz engrossada, terão dado por isso neste país de gente invejosa, arrogante e mal-informada).
A terceira precisão tem a ver com outra questão de hierarquias, a qual chama à colação um misto de autoridade política, credibilidade técnica, reputação internacional e capacidade executória. Um domínio onde o que antes ia, visível e decrescentemente, do primeiro-ministro (PM) ao ministro das Finanças (MF) e deste ao governador do Banco de Portugal (GBdP) resultou agora, pela mesma ordem em GBdP – MF – PM. Porque foram seguramente a qualidade técnica e o prestígio internacional de Carlos Costa que – como também já ocorrera na sua influência discreta sobre o dossiê que se discutia no Parlamento Europeu – fizeram a diferença na resolução dos pequenos/grandes detalhes que vieram a viabilizar a saída que está agora em implementação.
Quase tudo o mais são cantigas...
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