O torpor das férias contrasta fortemente com o
fim-de-semana alucinante que deve estar a ser vivido no Banco de Portugal, no
Governo e nos elos de ligação entre estes e a Comissão Europeia. O camarada
Mendes, sempre bem informado e escondido por detrás do estatuto de estudioso
deste tipo de situações, antecipou-se ontem na SIC a toda a comunicação social,
traçando os contornos possíveis da intervenção no BES que o governador do Banco
de Portugal anunciará hoje pela noite.
Hoje, praticamente toda a imprensa retoma os
traços anunciados por Marques Mendes, permanecendo a curiosidade se a comunicação
de Carlos Costa ratificará ou não a premonição do azougado comentador.
A questão central, a única que valerá a pena
monitorizar nos tempos que se aproximam, consistirá em saber qual a margem de
perda que resultará de tudo isto para os contribuintes em geral. Pelos comentários
que foram sendo produzidos, duas interpretações foram confrontadas. A comunicação
de Marques Mendes procurou fazer passar a ideia de que os contribuintes não serão
lesados e que desta vez, ao contrário do que se passou com o BPN, não haverá dinheiro
público torrado na operação. A operação do “bad
bank” visará, em princípio, fazer reverter as perdas integralmente para
acionistas e credores, protegendo os contribuintes, completada pela entrada do
Fundo de Resolução no banco bom. Mas outros comentadores, por exemplo, o
Professor Avelino Jesus (grupo de trabalho das PPP) fala de ingenuidade quando
se pensa que, embora em menor grau, não revertam perdas a ser suportadas por
dinheiro público. O argumento para essa suspeição prende-se com a capacidade
que os acionistas, designadamente a família Espírito Santo, terão tido de
proteger o seu património. Fazendo fé na dinâmica de incumprimento observada no
mês de julho e na engenharia de manigância que a tribo ES praticou para iludir
as orientações vinculativas do Banco de Portugal, todas as dúvidas poderão ser
alimentadas quanto a esta interrogação.
De qualquer modo, a dúvida está em saber se a
comunicação de Carlos Costa abrirá hoje um novo paradigma de resgate de
instituições financeiras ou se, pelo contrário, permanecerá viva a impunidade
dos incumpridores malévolos.
Por ironia do destino, também deste desfecho
poderá depender o lugar futuro que Carlos Costa assumirá na história da regulação
financeira em Portugal. O estado de graça que o sistema financeiro e as forças
políticas lhe concederam complicou-se. Veremos o que a anunciada comunicação
nos reserva.
Sem comentários:
Enviar um comentário