segunda-feira, 4 de agosto de 2014

BES FOI-SE



É um pouco desesperante estar em férias limitado à caca de uma TV digital que não possui nenhum canal de informação e por isso só recorrendo à TV no portátil ou no IPAD foi possível seguir a intervenção de Carlos Costa e alguns dos comentários que se lhe seguiram.
Partilho a convicção de alguns que a modalidade utilizada de resgate do BES é entre as permitidas pelo quadro legal existente a mais equilibrada, o que não significa estar isenta de riscos. Esses riscos prendem-se sobretudo com as condições em que o Novo Banco será retomado por investidores privados, pressupondo que a grande maioria dos clientes do BES antigo sentir-se-ão confiantes com a solução encontrada e que não assistiremos nos próximos dias a uma debandada de aplicações ou a uma corrida de resoluções de contratos. Não é integralmente seguro que esses investidores potencialmente interessados atribuam ao Novo Banco o valor de recapitalização agora operado através do Fundo de Resolução e empréstimo aos fundos disponibilizados pela Troika para assistência neste tipo de dificuldades. Aparentemente, não há evidências de que a transição tenha gerado desinformação de maior, mas serão os próximos dias que ditarão se o público em geral compreendeu a solução utilizada.
Quanto às reações no plano político, já não há pachorra para aturar as reações de um Bloco de Esquerda agonizante. Com o avô cantigas Semedo em férias, foi a Maluquinha de Arroios, Catarina Martins, qual baratinha tonta de olhos doces, a pronunciar-se contra a utilização do dinheiro dos contribuintes, quando distraída ou simplesmente a precisar de hibernar para fora do alcance das câmaras e microfones, não entendeu que esta solução é a que tende a minimizar esse risco, embora não o faça desaparecer, o é óbvio. O desmembramento do BE é trágico e nem sequer o papel informativo junto de algum do seu eleitorado reações desta natureza acautelam.
Quanto à declaração de Carlos Costa e do conselho de administração do Banco de Portugal, ela tem alguns aspetos relevantes e o mais importante é o da autojustificação pelo sucedido nos últimos vinte dias de julho de 2014, sobretudo pela ingenuidade de ter pensado que o “crony capitalism” dos Espírito Santo à solta e desesperado, permanecendo embora limitado no executivo do Banco, iria respeitar religiosamente as prescrições do regulador.
Pessoalmente, acho que Rui Tavares acertou na mouche no seu comentário de hoje no Público quando refere que Carlos Costa, na defensiva, acabou por referir o que os críticos mais aguerridos do sistema financeiro atual têm vido a proclamar em matéria de moralização dos mecanismos de ocultação de fundos e aplicações que os offshore e paraísos fiscais possibilitam. Pressionado pelos que interpretam a primeira avaliação da situação do BES realizada pelo governador como uma tomada de posição ingénua para com os malefícios do compadrio instalado no BES, à solta e desesperado com tanta imparidade para tapar, o governador vem agora afinal reconhecer os limites da supervisão nacional neste quadro de sofisticação mundializada do sistema financeiro. Ironia do destino, ou simplesmente o reflexo de uma globalização que avançou mais nas diatribes criativas e malévolas do sistema financeiro do que na circulação de mercadorias, serviços e pessoas.

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