É um pouco desesperante estar em férias limitado à
caca de uma TV digital que não possui nenhum canal de informação e por isso só
recorrendo à TV no portátil ou no IPAD foi possível seguir a intervenção de
Carlos Costa e alguns dos comentários que se lhe seguiram.
Partilho a convicção de alguns que a modalidade
utilizada de resgate do BES é entre as permitidas pelo quadro legal existente a
mais equilibrada, o que não significa estar isenta de riscos. Esses riscos prendem-se
sobretudo com as condições em que o Novo Banco será retomado por investidores
privados, pressupondo que a grande maioria dos clientes do BES antigo sentir-se-ão
confiantes com a solução encontrada e que não assistiremos nos próximos dias a
uma debandada de aplicações ou a uma corrida de resoluções de contratos. Não é
integralmente seguro que esses investidores potencialmente interessados
atribuam ao Novo Banco o valor de recapitalização agora operado através do
Fundo de Resolução e empréstimo aos fundos disponibilizados pela Troika para
assistência neste tipo de dificuldades. Aparentemente, não há evidências de que
a transição tenha gerado desinformação de maior, mas serão os próximos dias que
ditarão se o público em geral compreendeu a solução utilizada.
Quanto às reações no plano político, já não há
pachorra para aturar as reações de um Bloco de Esquerda agonizante. Com o avô
cantigas Semedo em férias, foi a Maluquinha de Arroios, Catarina Martins, qual
baratinha tonta de olhos doces, a pronunciar-se contra a utilização do dinheiro
dos contribuintes, quando distraída ou simplesmente a precisar de hibernar para
fora do alcance das câmaras e microfones, não entendeu que esta solução é a que
tende a minimizar esse risco, embora não o faça desaparecer, o é óbvio. O
desmembramento do BE é trágico e nem sequer o papel informativo junto de algum
do seu eleitorado reações desta natureza acautelam.
Quanto à declaração de Carlos Costa e do conselho
de administração do Banco de Portugal, ela tem alguns aspetos relevantes e o
mais importante é o da autojustificação pelo sucedido nos últimos vinte dias de
julho de 2014, sobretudo pela ingenuidade de ter pensado que o “crony capitalism” dos Espírito Santo à
solta e desesperado, permanecendo embora limitado no executivo do Banco, iria
respeitar religiosamente as prescrições do regulador.
Pessoalmente, acho que Rui Tavares acertou na
mouche no seu comentário de hoje no Público quando refere que Carlos Costa, na
defensiva, acabou por referir o que os críticos mais aguerridos do sistema
financeiro atual têm vido a proclamar em matéria de moralização dos mecanismos
de ocultação de fundos e aplicações que os offshore
e paraísos fiscais possibilitam. Pressionado pelos que interpretam a primeira
avaliação da situação do BES realizada pelo governador como uma tomada de posição
ingénua para com os malefícios do compadrio instalado no BES, à solta e
desesperado com tanta imparidade para tapar, o governador vem agora afinal
reconhecer os limites da supervisão nacional neste quadro de sofisticação
mundializada do sistema financeiro. Ironia do destino, ou simplesmente o
reflexo de uma globalização que avançou mais nas diatribes criativas e malévolas
do sistema financeiro do que na circulação de mercadorias, serviços e pessoas.
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