segunda-feira, 4 de agosto de 2014

POR FALAR EM PARAÍSOS FISCAIS...


Mudemos de assunto sem todavia sairmos significativamente do comprimento de onda que nos vem invadindo. De facto, muitos se têm referido por estes dias, quer a propósito quer a despropósito, aos terríficos offshores que tanto limitam a crescentemente reclamada transparência dos cidadãos e das instituições nacionais à escala global. Por feliz coincidência, ou talvez não tanto, um artigo de fundo recentemente publicado no “Financial Times” veio dar um contributo relevante para que se conheça melhor um dos mais importantes desses offshores – o Luxemburgo –, que também é simultaneamente um dos que nos é mais próximo (pela localização geográfica, pela participação comum na União Europeia e até por ter sido governado durante dezanove anos pelo indigitado novo presidente do colégio de comissários Juncker).

Respigo alguns apontamentos mais chamativos: um pequeno país (pouco mais de 2500 km²) cujas holdings e entidades financeiras possuem mais de 2 biliões de dólares em ativos, um pequeno país que construiu a segunda maior indústria mundial de gestão de fundos, um pequeno país dotado de um sector bancário gigantesco (ver gráfico acima) mas que foi resiliente à crise, um pequeno país que o FMI estima recebedor de mais de 10% do investimento direto estrangeiro mundial, um pequeno país que goza de uma crescente popularidade (leia-se explosão de lucros) junto de muitas grandes empresas multinacionais (Amazon, Caterpillar e Microsoft são os casos mais emblemáticos mencionados, para além do ecommerce hub em que o Grão-Ducado também se tornou). Tudo resultando no visível desenvolvimento de uma enorme prosperidade no coração do que se convencionou designar por “mercado único europeu” – o Luxemburgo encabeça as listagens internacionalmente disponíveis em termos de produto interno bruto por habitante – conseguida através de um regime económico algo perversamente assente em baixa fiscalidade e permissividade à evasão fiscal e em sérias distorções concorrenciais e às regras europeias de ajudas de Estado, um regime tornado capaz de oferecer negócios muito favoráveis às grandes companhias e de ser altamente apelativo para os contribuintes de outros países (neles se incluindo, necessariamente, os ditos “parceiros comunitários”).

Peço desculpa de me repetir, mas a realidade é que assim vamos andando...

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