quinta-feira, 28 de agosto de 2014

JUÍZOS PRECONCEITUOSOS?



A cobertura que o Observador (o digital da direita liberal, mas que vale a pena ler, porque é bem feito) concede à entrevista de Proença de Carvalho ao Económico dá o mote para o título deste post.
A entrevista é, como se percebe, uma primeira manifestação de preparação da defesa de Ricardo Salgado, do qual Proença é o advogado principal, corrigindo a meu ver o tiro de uma talvez precipitada aparição do próprio Ricardo Salgado na comunicação social, que não terá corrido bem do ponto de vista da criação de condições de opinião pública favoráveis à futura defesa.
Se há personalidade que me tira do sério e que na minha apreciação labora em torno dos mais recônditos processos de gestão de influências na corte lisboeta, é este cardeal Richelieu, de barbinha irritante e que todos intuímos tem informação que baste para jogar nas contradições dos que teimem em cair na esfera da sua gestão de influências.
Se nos dermos ao trabalho de recuperar no tempo as posições públicas deste cardeal laico, veremos que o homem não se compromete com rigorosamente nada que saia do campo de influência de um bloco central, que certamente continuará nas suas mais profundas cogitações.
E a argumentação para preparar a defesa não poderia deixar de ser a de que os tempos do PREC estão aí de novo, com condenações na praça pública, “precipitadas e preconceituosas”. O cardeal prepara o terreno e não olhará a meios de gestão de influências e de opinião. A peça controla jornais e outros órgãos de comunicação social (ameaças de despedimentos, pois), foi membro da Comissão de Remunerações do BES (excelente lugar para gerir influências) e não sei mais que mecanismos. Apreciem a candura desta conclusão do cardeal: “Houve um conjunto de circunstâncias, umas imputáveis à gestão, outras aos reguladores, outras a outros protagonistas, que geraram em determinado momento perda de confiança da parte de clientes e de acionistas. O banco mais sólido teria soçobrado, perante essa perda de confiança”. Vejam a perícia com que a peça coloca ao mesmo nível os erros da gestão, dos reguladores e de outros protagonistas. O processo promete. Esta personalidade cheira ao podre mais profundo desta sociedade portuguesa. E a minha sensação é que os problemas desta não se superam sem arrancar estes pontos infectos, como se arranca um dente sem hipóteses de salvação.

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