A cobertura que o Observador (o digital da
direita liberal, mas que vale a pena ler, porque é bem feito) concede à
entrevista de Proença de Carvalho ao Económico dá o mote para o título deste post.
A entrevista é, como se percebe, uma primeira manifestação
de preparação da defesa de Ricardo Salgado, do qual Proença é o advogado
principal, corrigindo a meu ver o tiro de uma talvez precipitada aparição do próprio
Ricardo Salgado na comunicação social, que não terá corrido bem do ponto de
vista da criação de condições de opinião pública favoráveis à futura defesa.
Se há personalidade que me tira do sério e que na
minha apreciação labora em torno dos mais recônditos processos de gestão de
influências na corte lisboeta, é este cardeal Richelieu, de barbinha irritante
e que todos intuímos tem informação que baste para jogar nas contradições dos
que teimem em cair na esfera da sua gestão de influências.
Se nos dermos ao trabalho de recuperar no tempo
as posições públicas deste cardeal laico, veremos que o homem não se compromete
com rigorosamente nada que saia do campo de influência de um bloco central, que
certamente continuará nas suas mais profundas cogitações.
E a argumentação para preparar a defesa não
poderia deixar de ser a de que os tempos do PREC estão aí de novo, com condenações
na praça pública, “precipitadas e preconceituosas”. O cardeal prepara o terreno
e não olhará a meios de gestão de influências e de opinião. A peça controla
jornais e outros órgãos de comunicação social (ameaças de despedimentos, pois),
foi membro da Comissão de Remunerações do BES (excelente lugar para gerir influências)
e não sei mais que mecanismos. Apreciem a candura desta conclusão do cardeal: “Houve um
conjunto de circunstâncias, umas imputáveis à gestão, outras aos reguladores,
outras a outros protagonistas, que geraram em determinado momento perda de
confiança da parte de clientes e de acionistas. O banco mais sólido teria
soçobrado, perante essa perda de confiança”. Vejam a perícia com que
a peça coloca ao mesmo nível os erros da gestão, dos reguladores e de outros
protagonistas. O processo promete. Esta personalidade cheira ao podre mais
profundo desta sociedade portuguesa. E a minha sensação é que os problemas
desta não se superam sem arrancar estes pontos infectos, como se arranca um
dente sem hipóteses de salvação.
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