Enquanto a senhora Merkel vai mexendo as peças no
seu próprio puzzle europeu (ver último post
do meu colega de blogue) e dá graças ao santo (S. Tiago) em passeio de verão
pelos caminhos de Compostela com o seu súbdito Rajoy (não vá o diabo tecê-las),
nesta semana que se fina economistas proeminentes, essencialmente do lado de lá
do Atlântico, zurziram e fortemente o fizeram na incapacidade europeia de
compreender o estado deplorável da sua situação macroeconómica.
Bradford DeLong, que se prepara para um ano sabático
(imagino a vasta produção que daí advirá, pois com aulas parece que não dorme,
sem elas imagina-se o que vem aí) atira a matar quer no Washington Center for Equitable Growth (link aqui), quer no Project
Syndicate (link aqui). A
comparação da evolução das economias americana e europeia face à tendência que
resultaria da situação anterior a 2008 é confrangedora, o que o leva a uma
escala de agressividade na designação: primeiro, crise financeira de 2007,
depois crise financeira de 2008, de seguida Grande Recessão e porque não agora “a
maior depressão”. As perdas observadas pelas economias americana e europeia
face ao produto potencial do período 1995-2007 são estimadas, respetivamente,
em 78 e 60% do PIB relativo a um ano, representando uma enorme perda de
recursos, para a qual os dois blocos económicos não dispõem das mesmas armas.
Do lado de cá do Atlântico, Simon Wren-Lewis (escrevendo
a partir de Oxford no Mainly Macro (aqui
e aqui) é particularmente certeiro
quando submete a política macroeconómica da zona euro a uma crítica
contundente, denunciando o que são as insuficiências da política monetária
(mesmo se Draghi cumprir o que vai prometendo) quando comparadas a incontornável
utilização da política fiscal no contexto deflacionário e de “zero lower bound”
de taxas de juro que a zona euro vai vivendo. Wren-Lewis mostra como o discurso
alemão de colocar a questão grega no centro de toda a sua argumentação pretende
ocultar a pretensão alemã de renunciar a desempenhar o seu papel necessário de
exercitar a política fiscal e reflacionária acima dos países da periferia, para
que estes possam aspirar a taxas de inflação de pelo menos 1%. Não terá sido
por acaso que o ministro das Finanças Schäuble se apressou a vir a terreiro
dizendo que Draghi foi mal interpretado no seu discurso em Jackson Hole (link aqui para o Económico). Na
mouche, sobretudo porque Draghi falou essencialmente para a Alemanha e para os
seus representantes no BCE.
Finalmente, Krugman (link aqui) dá a sua interpretação para um problema tão vincadamente
exposto neste blogue. Porque é que os economistas europeus se mostram tão pouco
fazedores de opinião contra os princípios estabelecidos que estão a comer
literalmente o bem-estar dos europeus e porque é que não se vislumbram vozes
poderosas? Krugman propõe-nos duas explicações: “Uma é que a ecologia intelectual Americana parece
ser muito mais flexível: aqui, economistas proeminentes com investigação
reconhecida podem também assumir-se como intelectuais públicos com muitos
seguidores e ainda assim servir o serviço público; e podem oferecer pelo menos
algum contrapeso aos TMR (tipos muito respeitados). Pensem em Larry Summers,
mas também em Janet Yellen (e antes dela Ben Bernanke) e de uma maneira
ligeiramente diferente este vosso servidor. Este tipo de gente não é totalmente
inexistente na Europa – Mervyn King foi um banqueiro central académico e de
certo modo também Mario Draghi. Mas nos EUA
há muito mais gente desse calibre. A outra hipótese
é que os liberais americanos foram influenciados pela loucura da nossa direita
e em particular pela experiência dos anos Bush”.
Enquanto analisa o débil ambiente académico europeu,
Krugman espanta-se com a leveza (com a espessura de um kleenex) da esquerda europeia, incapaz de se fazer ouvir (de novo à
atenção de Costa e de Seguro). E os tempos estão para sermos todos liberais
americanos, já que é nesse campo que temos, por mais paradoxal que isso possa
parecer, os melhores defensores de um outro paradigma de intervenção na Europa.
Parece assim que este blogue nasceu com ideias certas: depois de anos e anos à procura
de referenciais macroeconómicos europeus, vale bem mais a pena seguirmos com
atenção a blogosfera americana e ter a sagacidade e o espirito crítico em
alerta para pensarmos bem a contextualização europeia desse pensamento. Para lá
do gozo de fazer este blogue, só esta conclusão bastaria para pensar que vamos
seguindo a orientação certa.
Sem comentários:
Enviar um comentário