Tal como já aqui foi referido e desta vez com uma
situação bem mais complexa à mistura, a Argentina encontra-se em situação de default, ainda que a sua Presidente não
o reconheça, a pretexto de um imbróglio jurídico que ninguém ainda conseguiu
desatar.
Não há evidências de que o pânico se tenha
instalado. E, nestes dias, a sociedade argentina cruzou-se com dois
acontecimentos, não relacionados, entre os quais apenas alguns argentinos tenham estabelecido alguma conexão.
Estou a referir-me ao aqui já citado concerto
memorável no Teatro Colón (pelos relatos conhecidos), que permitiu o reencontro
de Daniel Barenboim e Martha Argerich, seja com a orquestra East-Western Divan,
seja nos duetos de piano para as peças Wolfgang
Amadeus Mozart: Sonata em Re maior para dois pianos, K. 448, Franz Schubert: Variações em La bemol maior
sobre um tema original para piano a quatro mãos, D. 813 e Igor Stravinski: A consagração da primavera (Versão
para piano a quatro mãos). A imagem do Colón que abre este post traz consigo
toda a aura de um teatro e de uma cidade que, convém não esquecermos, já foi
uma das cidades mais desenvolvidas do mundo, antes da Argentina ter iniciado o
seu declínio histórico prolongado.
(Estela de Carlotto, Presidente de las Abuelas argentinas)
Mas estou também a referir-me à vitória das
Abuelas da Plaza de Mayo, com a descoberta e localização de Guido de Carlotto,
neto da Presidente da Associação Estela de Carlotto, após uma porfiada
tentativa de 36 anos para descobrir o paradeiro do seu neto, retirado cinco
dias depois do seu nascimento pela Junta Militar golpista dos braços da mãe
Laura de Carlotto, membro dos Montoneros e posteriormente assassinada pelos
militares de má memória. É verdade que continuam por descobrir cerca de 400
netos roubados pela ditadura militar, mas a pulsão cívica de Estela de Carlotto
foi recompensada.
É provável que para os apaixonados musicais que
estiveram presentes no Colón a felicidade partilhada tenha relacionado os dois
acontecimentos. Não é que por ironia do destino o agora localizado Guido de
Carlotto não é também músico? E talvez nessa noite não se tivesse pensado no default.
O jornalista Francisco Peregil no El País de hoje transporta-nos para o ambiente dessa noite.
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