(Simon Wren-Lewis, Oxford University)
Do ponto de vista macroeconómico e não como o
resultado de qualquer preconceito político relativo à coligação que governa
atualmente a Alemanha, o chamado problema alemão tem vindo a ganhar uma
progressiva expressão na literatura macroeconómica. O problema alemão assume
hoje uma dupla natureza. Em que é consiste?
A dimensão mais conhecida é a que pende sob a
forma de libelo acusatório sobre as autoridades alemãs (não apenas de
observadores exteriores mas também de economistas alemães aos quais a imprensa
nacional não tem concedido o devido destaque) de não desempenhar a função
compensatória de relançamento da atividade económica europeia, fortemente penalizada
pelo efeito recessivo que as teses da austeridade punitiva infligiram às
economias endividadas do sul. As autoridades alemãs não têm sido muito
convincentes na forma como afastam o seu papel de motor compensatório e, ainda
há dias, o inenarrável Schäuble dizia todo ladino que crescimento sim, mas não
a crédito. Referi-me aqui a essa afirmação como uma tola tentativa de inventar
um capitalismo sem crédito. Schumpeter revolver-se-á certamente no túmulo ao
escutar tanta imbecilidade económica.
Mas uma segunda dimensão de perspetiva crítica
tem vindo a emergir e consiste em desancar a política macroeconómica alemã do
ponto de vista do próprio modelo de crescimento alemão. E trata-se sobretudo
dos efeitos e sinais dinâmicos que a política macroeconómica oferece aos
agentes económicos ao validar um crescimento em que o crescimento dos salários tem
sido inferior ao da produtividade. Do ponto de vista das escolhas de combinações
de fatores, esta opção por um esmagamento dos salários abaixo do crescimento da
produtividade é profundamente nefasta a uma lógica de inovação, aliás agravada
pela invenção alemã dos mini-jobs, através da qual o emprego jovem é remunerado
segundo o padrão da precariedade e dos baixos salários. Esta prática tem sido
proclamada pelos franceses como um exemplo crasso de dumping social, imagine-se
feito não por asiáticos mas pelo motor da economia europeia.
Simon Wren-Lewis tem como sempre uma peça rigorosa sobre esta matéria e do post ressalta sobretudo a forma como as duas
críticas à atuação alemão se imbricam uma na outra. Numa União Monetária, uma
economia que valida através da sua política macroeconómica um crescimento
salarial abaixo da produtividade está na prática a realizar uma política de “beggar my neighbour”, ou seja de
penalizar consciente e agressivamente os seus parceiros de União Monetária. E isto
é que parece que os alemães se recusam a compreender. Sabemos que a fobia
inflacionária (historicamente comprovada ninguém o escamoteia) dos alemães os
faz duvidar permanentemente do relançamento fiscal e até monetário das economias.
Mas se os alemães têm direito a invocar essa fobia, também os europeus estão no
direito de invocar o expansionismo alemão agora travestido de uma política de beggar my neighbour.
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