quinta-feira, 2 de outubro de 2014

ECOS DUBLINESCOS



Para além da realidade do distrito financeiro, onde está situado o moderno Convention Center da cidade e onde a conferência da European Evaluation Society se instalou e que estranhamente não tem um bar ou café no seu interior, que é um caso à parte, Dublin é uma cidade que fervilha de gente que trabalha no duro. Diria uma cidade tipicamente de classe média, pelo menos do ponto de vista de quem usa a rua e os transportes públicos num raio de quatro a cinco quilómetros. O facto de não haver metropolitano permite uma melhor visualização da população que circula. Nesse raio não consegui identificar propriamente uma zona marcadamente de “upper class” e hoje numa viagem de comboio (tipo metropolitano ligeiro de superfície, o DART) pela grande baía de Dublin para sul até Greystones fiquei com a mesma impressão. O que me suscita a curiosidade de saber até que ponto a classe média irlandesa foi atingida na mesma medida pelo bail-out como a economia portuguesa.
Esta reflexão tem algum significado sobretudo quando ontem Cameron no congresso conservador anual deu o tiro de partida para as próximas eleições em 2015 com uma promessa forte de redução de impostos para famílias com níveis de rendimento acima de um certo limiar, financiada em parte pela redução de subsídios e ajudas de caráter social.
Suzanne Moore no Guardian de hoje iniciava a sua crónica com esta afirmação: “Fazendo os mais pobres pagar impostos, os Tories estão felizes por ter mães solteiras a comer tostas ao jantar”. Cameron parece apostado em terminar o que Thatcher iniciou nos anos 80, assumindo uma espécie de guerra de classes conduzida por quem está do lado mais favorável.
Fora isto, a globalização dos serviços e dos franchisings domina claramente a cidade em que alguns mais típicos resistem, mas provavelmente já com propriedade de algum grupo comercial global.
Percebe-se também a notória captação de receitas próprias, visível por exemplo nos monumentos religiosos de grande expressão como são a Christ Church e a Catedral de St. Patrick, ambas com entradas pagas e locais de venda de souvenirs. Na primeira, mesmo na sua cripta medieval, um pequenino café vendia cup-cakes, bolachas e outros bolos e recordações. Força dos tempos. Uma curiosidade: não me tinha passado pela cabeça que Jonathan Swift (As Viagens de Gulliver da nossa meninice) tinha sido Dean da St. Patrick Cathedral (de 1713 a 1745).

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