Para além da realidade do distrito financeiro,
onde está situado o moderno Convention
Center da cidade e onde a conferência da European Evaluation Society se instalou e que estranhamente não tem
um bar ou café no seu interior, que é um caso à parte, Dublin é uma cidade que
fervilha de gente que trabalha no duro. Diria uma cidade tipicamente de classe
média, pelo menos do ponto de vista de quem usa a rua e os transportes públicos
num raio de quatro a cinco quilómetros. O facto de não haver metropolitano
permite uma melhor visualização da população que circula. Nesse raio não
consegui identificar propriamente uma zona marcadamente de “upper class” e hoje numa viagem de comboio
(tipo metropolitano ligeiro de superfície, o DART) pela grande baía de Dublin
para sul até Greystones fiquei com a mesma impressão. O que me suscita a
curiosidade de saber até que ponto a classe média irlandesa foi atingida na
mesma medida pelo bail-out como a economia portuguesa.
Esta reflexão tem algum significado sobretudo
quando ontem Cameron no congresso conservador anual deu o tiro de partida para
as próximas eleições em 2015 com uma promessa forte de redução de impostos para
famílias com níveis de rendimento acima de um certo limiar, financiada em parte
pela redução de subsídios e ajudas de caráter social.
Suzanne Moore no Guardian de hoje iniciava a sua
crónica com esta afirmação: “Fazendo os mais pobres pagar impostos, os Tories
estão felizes por ter mães solteiras a comer tostas ao jantar”. Cameron parece
apostado em terminar o que Thatcher iniciou nos anos 80, assumindo uma espécie
de guerra de classes conduzida por quem está do lado mais favorável.
Fora isto, a globalização dos serviços e dos franchisings domina claramente a cidade
em que alguns mais típicos resistem, mas provavelmente já com propriedade de
algum grupo comercial global.
Percebe-se também a notória captação de receitas
próprias, visível por exemplo nos monumentos religiosos de grande expressão
como são a Christ Church e a Catedral
de St. Patrick, ambas com entradas pagas e locais de venda de souvenirs. Na
primeira, mesmo na sua cripta medieval, um pequenino café vendia cup-cakes, bolachas e outros bolos e
recordações. Força dos tempos. Uma curiosidade: não me tinha passado pela
cabeça que Jonathan Swift (As Viagens de Gulliver da nossa meninice) tinha sido
Dean da St. Patrick Cathedral (de 1713 a 1745).
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