terça-feira, 14 de outubro de 2014

QUEM DIRIA!

(Imagem com a devida vénia ao blogue do Bruegel - Jérémie Cohen-Setton)


Na primavera de 2012, num artigo publicado no Brookings Papers on Economic Activity, “Fiscal Policy in a Depressed Economy”, Lawrence Summers e Bradford DeLong ofereceram à política macroeconómica do pós- crise de 2007-2008 a mais importante demonstração da relevância do investimento público (ou do investimento privado desde que devidamente mobilizado e coordenado). Sob condições e pressupostos devidamente explicitados no modelo de suporte, Summers e DeLong mostraram que, numa situação de zero lower bound, isto é de financiamento público a custos baixos, era vantajoso aos países endividarem-se a essas taxas pois os efeitos positivos do investimento sobre a procura global e o produto pagariam esse financiamento e proporcionariam até uma diminuição do peso da dívida pública no produto.
Nos desenvolvimentos comunicacionais posteriores à publicação do artigo, aliás amplamente divulgados por antecipação no blogue de Bradford DeLong, os autores mostraram que essa demonstração constituía a melhor fundamentação para o reconhecimento da importância do investimento em infraestruturas como medida anticíclica imposta por uma recuperação demasiado tímida e excessivamente lenta.
Entre a data de publicação do artigo e a situação macroeconómica atual, sobretudo na União Europeia mas na economia mundial em geral, os desenvolvimentos observados vieram assegurar ao artigo dos dois economistas um contexto de disseminação amplamente favorável. A canhestra política macroeconómica alemã, seguida por um número relativamente reduzido de fiéis, é praticamente a única a ignorar o alcance do artigo de Summers e de DeLong. Tão canhestra essa política é que inúmeros testemunhos sobre a situação infraestrutural têm vindo a evidenciar que a economia alemã sofre de carências inesperadas para a pretensa superioridade alemã.
Ora, o último World Economic Outlook do FMI consagra o seu capítulo terceiro a desenvolvimentos empíricos do artigo de Summers e de DeLong, o que está na origem das orientações de política económica anti-crise com que o FMI tem vindo a metralhar as autoridades europeias.
O contexto mudou, quem diria! Mas é fundamental evitar a euforia da banalização e aguçar o nosso espírito crítico para identificar que investimento público infraestrutural necessitará a economia portuguesa. Claro que isso não poderá equivaler a uma reedição do modelo de crescimento guiado pelas infraestruturas que se exauriu pelas dificuldades conhecidas. Depois, o financiamento desse plano enfrentará as suas dificuldades. Eis um bom tema para relançar uma alternativa política consistente.

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