(Imagem com a devida vénia ao blogue do Bruegel - Jérémie Cohen-Setton)
Na primavera de 2012, num artigo publicado no Brookings Papers on Economic Activity, “Fiscal Policy in a Depressed Economy”, Lawrence
Summers e Bradford DeLong ofereceram à política macroeconómica do pós- crise de
2007-2008 a mais importante demonstração da relevância do investimento público
(ou do investimento privado desde que devidamente mobilizado e coordenado). Sob
condições e pressupostos devidamente explicitados no modelo de suporte, Summers
e DeLong mostraram que, numa situação de zero
lower bound, isto é de financiamento público a custos baixos, era vantajoso
aos países endividarem-se a essas taxas pois os efeitos positivos do
investimento sobre a procura global e o produto pagariam esse financiamento e
proporcionariam até uma diminuição do peso da dívida pública no produto.
Nos desenvolvimentos comunicacionais posteriores à
publicação do artigo, aliás amplamente divulgados por antecipação no blogue de
Bradford DeLong, os autores mostraram que essa demonstração constituía a melhor
fundamentação para o reconhecimento da importância do investimento em
infraestruturas como medida anticíclica imposta por uma recuperação demasiado tímida
e excessivamente lenta.
Entre a data de publicação do artigo e a situação
macroeconómica atual, sobretudo na União Europeia mas na economia mundial em
geral, os desenvolvimentos observados vieram assegurar ao artigo dos dois
economistas um contexto de disseminação amplamente favorável. A canhestra política
macroeconómica alemã, seguida por um número relativamente reduzido de fiéis, é
praticamente a única a ignorar o alcance do artigo de Summers e de DeLong. Tão
canhestra essa política é que inúmeros testemunhos sobre a situação infraestrutural
têm vindo a evidenciar que a economia alemã sofre de carências inesperadas para
a pretensa superioridade alemã.
Ora, o último World
Economic Outlook do FMI consagra o seu capítulo terceiro a desenvolvimentos
empíricos do artigo de Summers e de DeLong, o que está na origem das orientações
de política económica anti-crise com que o FMI tem vindo a metralhar as
autoridades europeias.
O contexto mudou, quem diria! Mas é fundamental
evitar a euforia da banalização e aguçar o nosso espírito crítico para
identificar que investimento público infraestrutural necessitará a economia
portuguesa. Claro que isso não poderá equivaler a uma reedição do modelo de
crescimento guiado pelas infraestruturas que se exauriu pelas dificuldades
conhecidas. Depois, o financiamento desse plano enfrentará as suas
dificuldades. Eis um bom tema para relançar uma alternativa política
consistente.
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