terça-feira, 7 de outubro de 2014

GULBENKIAN NA FRENTE



Dois dias muito intensos de conferência sobre políticas públicas na Gulbenkian, colocando de novo a Fundação na frente da agitação de ideias sobre o futuro de Portugal. Arriscaria a dizer que não é por acaso que a iniciativa surge nesta altura e que se prolongará durante pelo menos o primeiro semestre de 2015.
A iniciativa foi fortemente plural combinando posições de diferente espectro de pensamento. Exemplos: a Fundação acolheu no seio da conferência dois dos principais detratores da atual política macroeconómica europeia, Paul de Grauwe e Mark Blyth. Ricardo Reis, o economista português com maior capacidade de divulgação da economia, Professor da Universidade de Colúmbia, não é propriamente o contraponto  a de Grauwe e Blyth, pelo que macroeconomicamente falando as teses anti-austeridade marcaram pontos. João Leão (ISCTE – MIT) alinhou nesse mesmo sentido, defendendo a revitalização do mercado interno nacional. Entre as conferências magistrais, João Lobo Antunes fez uma excelente abordagem ao Estado Social, o Estado Social somos nós, que marcou humanisticamente a conferência.
Nos key policy papers, nos quais o meu trabalho e da colega Elisa Babo foi bem reconhecido, predominou também algum equilíbrio. Por exemplo, nas questões da saúde, pensões e pobreza, Pitta Barros (saúde) e Jorge Bravo (pensões) são economistas liberais, mas a conferência acolheu o grande especialista nacional da pobreza e da desigualdade, Carlos Farinha Rodrigues, contrasta bem com essa orientação. E os painéis que se realizaram após a apresentação dos key policy papers para os comentar e completar propostas foram também marcados por uma grande diversidade de posições. Ricardo Paes Mamede terá preenchido o espectro da esquerda à esquerda do PS, mas não teve grandes oportunidades de marcar o curso do debate, embora no painel com Félix Ribeiro, a sua tese interessante de que a financiarização da economia portuguesa tem de ser convocada para entender a fragilidade da economia real (que não terá agradado ao Presidente da Fundação) encontrou na geoestratégia económica de Félix um adversário à altura para marcar o debate.
Deixo-vos entretanto com os slides da nossa apresentação.
Slide 1 – Estrutura da apresentação
1. Enquadramento: Territorialização de Políticas Públicas (TPP) – o que é e porquê a inovação e a cultura
 2. O estado da arte: há matéria para trabalhar?
 3. As grandes questões
 4. Propostas
Slide 2 – O QUE ENTENDEMOS POR TPP?
  • Uma equação que pode não ter resolução …
  • Um território pertinente (escala e governança) …
  • Um sistema de atores capaz de a partir do território construir uma visão estratégica (mais ou menos elaborada) sobre o seu futuro …
  • Uma política pública dirigida ao território ou com efeitos nele produzidos
Slide 3 - TPP e ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL DO ESTADO (OTE)
  • A TPP não se substitui à OTE…
  • Obviamente interagem entre si …
  • Mas qualquer que seja o estádio da OTE a TPP é sempre equacionável…
  • TPP ≡ Governança
  • Logo com custos de transação e coordenação que não podem ser ignorados
Slide 4 - PORQUÊ INOVAÇÃO E CULTURA?
  • Articulação intrínseca desejável: uma agenda para a criatividade…
  • Cruciais para uma mobilização identitária dos recursos nacionais na economia global…
  • Domínios que interpelam criativamente a triangulação da TPP …
  • E em que TPP bem sucedida significará inovação institucional e resultados cost-effective
Slide 5 – O estado da arte - DA POLÍTICA INDUSTRIAL ÀS POLÍTICAS DE INOVAÇÃO BASEADAS NO TERRITÓRIO
  • Os dois últimos períodos de programação (2000-2006 e 2007-2013) amadureceram os territórios para a TPP inovação…
  • Sistemas Regionais de Inovação e Ecossistemas de inovação (FCG)…
  • Desafios futuros das Estratégias Regionais de Especialização Inteligent
  • Centros de Racionalidade Estratégica? Territórios pertinentes? Governança? Recursos de coordenação?
Slide 6 - O estado da arte - TERRITORIALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS CULTURAIS E DESENVOLVIMENTO BASEADO NA CULTURA
  • Evolução dos “complexos territorializados de produção e de consumo cultural” ditada pelas políticas culturais municipais e o recurso aos Fundos Estruturais…
  • Territórios melhor infraestruturados que mantêm debilidades significativas dos tecidos artísticos e culturais
  • Boas práticas de integração vertical não replicadas, excessiva departamentalização da política a nível central e “esvaziamento” das DRC…
  • Desafios para a TPP: capital cultural e território; cultura, capital social e governança;  criatividade de base cultural
Slide 7 – AS GRANDES QUESTÕES
  • Um novo contexto para a TPP: consolidação orçamental e novas escolhas públicas
  • TPP mais eficaz e com menores custos do que as políticas centralizadas e territorialmente cegas
  • E com contributo positivo para a coesão territorial
o   Alargamento da base territorial de competitividade da economia portuguesa
o   Maior inclusão territorial via melhor conhecimento das necessidades
  • TPP e estratégias de transição: como passar do lio atual para um futuro mais sustentável
  • Avaliação comparativa necessária com outros domínios possíveis de TPP
Slide 8 – AS GRANDES QUESTÕES (2)
·        Principais desafios
o   INOVAÇÃO: consolidação dos sistemas de atores (ecossistemas de inovação ou Sistemas Regionais de Inovação?) e clarificação dos territórios pertinentes
o   CULTURA: formação e robustecimento de capital cultural, humano e social nos territórios (favorável à sustentabilidade do esforço infraestrutural realizado); clusterização das atividades culturais e integração sinérgica com outros setores de atividade
  • Uma ponte necessária: uma agenda nacional para a criatividade
  • A construção dos Centros de Racionalidade Estratégica: trabalhar as dinâmicas existentes; aprendizagem organizacional; robustecimento de capital social
SLIDE 9 – PROPOSTAS TRANSVERSAIS
  • Recapitalização, racionalização e reforço de serviços desconcentrados
  • Integração (cooperação) horizontal e vertical entre serviços
  • Uma agenda nacional para a criatividade
  • Enquadramento legal para parcerias entre administração central, local e terceiro setor
  • Com partilha de orçamentos de AD, AL e Fundos Estruturais
SLIDE10 – PROPOSTAS ESPECÍFICAS INOVAÇÃO
  • Sistemas de atores e modelos de governança das estratégias de especialização inteligente: geometria variável não pode ser rigidificada
  • Translação de conhecimento para o território mais deprimido e para a inovação social: I&D em copromoção com os territórios
  • Consolidar SRI no Alentejo e Algarve
  • Sistema Nacional de Inovação: science-based para innovation-driven
SLIDE 11 - PROPOSTAS ESPECÍFICAS CULTURA
  • Política pública valorizadora das dinâmicas bottom-up em matéria de redes e clusters culturais, favorável à governança
  • Articulação entre instrumentos de política de apoio à criação e produção artística e de valorização de práticas culturais da população
  • Criação de condições para a cooperação entre organismos dependentes da tutela da Cultura, autarquias e tecido artístico e cultural de base territorial: alargar boas práticas já alcançadas
  • Critérios de discriminação positiva para territórios com tecido cultural mais débil e com défices de capital social e humano
  • Integração da política cultural com outras políticas setoriais, evitando instrumentalização

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