domingo, 12 de outubro de 2014

ON THE ROAD AGAIN: ANMP - COIMBRA



Estes últimos tempos têm sido de grande investimento pessoal na apresentação pública de ideias. O momento está para isso e a sociedade civil parece despertar para uma intervenção que não necessita de estar acantonada aos movimentos de canalização de pensamento para os partidos políticos.
Esta semana, quarta-feira, a Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) realiza no Auditório da Fundação Bissaya Barreto em Coimbra a primeira das conferências de um ciclo dedicado ao tema Organização Territorial do Estado e a Democracia de Proximidade. Terei por companhia como keynote speakers o Professor António Cândido de Oliveira da Universidade do Minho, o Professor João Ferrão do ICS e o secretário-geral do Conselho dos Municípios e das Regiões da Europa Frédéric Vallier. Este vosso amigo é apresentado como economista e professor da Faculdade de Economia do Porto, o que não me desonra, mas continua a revelar uma extrema incomodidade com alguém que trabalha numa consultora não abdica de ter as suas ideias. Cabeças pequeninas.
Partilho convosco o texto introdutório que orientará a minha intervenção de 30 minutos.
“Estando o modelo da organização territorial do Estado português claramente definido na Constituição da República e considerando que essa configuração resistiu às revisões entretanto concretizadas, o estado de não acabamento do modelo quase 40 anos depois do período constitucional pode ser considerado um mistério da democracia portuguesa. Não vou aqui elaborar sobre os efeitos que terão resultado para a emergência desse mistério do facto do referendo da regionalização ter produzido um não inequívoco à sua implantação. Pressupondo que a sua presença continuada como desígnio constitucional constitui um indicador da sua relevância para as forças políticas nacionais com assento parlamentar, o não acabamento do modelo poderá ser interpretado seja como o resultado de uma incapacidade nacional real para o implementar ou então como o produto de conjunturas políticas e económico-sociais que impossibilitaram os compromissos políticos necessários. Porém, tenho para mim que a verdadeira razão para o mistério do não completamento da organização territorial do Estado está antes na inexistência de uma consciência regional fortemente identitária e na consequente debilidade de influência que a dimensão regional exerce nas forças políticas nacionais. Não entendo que essa influência deva medir-se necessariamente pela (in) existência de partidos regionalistas. Penso que se essa consciência regional existisse, ela bem poderia manifestar-se no interior das forças políticas existentes. À medida que vou trabalhando cada vez em maior profundidade pelo território nacional (e nos últimos tempos tenho trabalhado mais a sul do que a norte), mais se me enraíza a ideia de que a formar-se uma consciência regional em Portugal, só uma prática mais consistente da governação regional poderia aspirar a esse resultado. O que bem pode representar um círculo vicioso potencial: a ausência de consciência regional identitária tende a enfraquecer a criação do nível regional da OTE e como esta não avança a consciência regional não tem qualquer mecanismo que a estimule.
A reflexão que vos trago aqui hoje é o produto de um “reflexive practitioner”, ou seja de alguém que combina a investigação académica com a prática do planeamento (entendido aqui como uma ponte entre o conhecimento e a decisão política) e que utiliza essa combinação para refletir sobre a sua própria prática. Ora esta prática lida permanentemente com o inacabado edifício da OTE, tem de trabalhar e contornar as suas falhas, insuficiências, resistências e inércias e tratando-se por isso de uma prática reflexiva pode-nos dar alguma orientação sobre o que significa hoje, do ponto de vista da economia e do desenvolvimento, Portugal ter uma OTE inacabada e não assumir constitucionalmente para o sim ou para o não esse imperativo. Espero sinceramente que essa perspetiva seja complementar das restantes três intervenções nesta conferência e que com essa complementaridade animemos um debate profícuo que justifique a iniciativa e o esforço dos que quiseram nela participar.”

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