quarta-feira, 15 de outubro de 2014

E QUE O DEBATE SE INICIE!



Breves notas para dar conta do ambiente fértil de discussão que foi possível hoje estimular no debate da ANMP, em Coimbra, na Fundação Bissaya Barreto, magníficas instalações que mais uma vez evidenciam que o mal português não são as infraestruturas e os equipamentos.
As três intervenções, António Cândido de Oliveira, João Ferrão e eu próprio acabaram por se revelar bastante complementares, embora com matizes de posições diversas acerca do modo como poderá ser o completado o nível intermédio da organização territorial do Estado.
A posição de Cândido de Oliveira, um administrativista, é muito crítica quanto aos termos constitucionais de implantação das regiões (exigindo como condição 50% de votantes o que coloca a abstenção como fator de rejeição potencial do nível regional) e ainda mais crítica quanto ao modelo das Comunidades Intermunicipais. Segundo ele, o modelo representa face aos distritos um recuo em termos de escala, embora a permanência do distrito como espaço eleitoral contribua para a sua resiliência, e em termos de pertença identitária as CIM não se recomendam. A posição de João Ferrão acabou por ser muito complementar da minha, sobretudo porque parte de dois princípios essenciais: o princípio da ativação (partir da transformação do existente) e o princípio do incrementalismo radical (assegurar as transformações decisivas através de pequenas mudanças). João Ferrão pensa que é improvável senão mesmo impossível a criação de regiões ex-novo sem integrar as dinâmicas exploratórias da cooperação supramunicipal assegurando-lhe melhoria de legitimidade democrática, incluindo as próprias CCDR. Aliás, o modelo de João Ferrão (melhor governo mais governança) tem três dimensões: a nível central, propõe a redução do que designa de centralismo dependente, ou seja reforço da posição nacional face às autoridades comunitárias; a nível local, combate à descentralização centralizada, ou seja, recuperação de autonomia municipal e menos submetida aos ditames da administração central; a nível intermédio, pressupõe a atribuição de ganhos de legitimidade democrática às instituições de intermediação política hoje existentes (Áreas Metropolitanas para domínios muito seletivos, Comunidades Intermunicipais e CCDR).
Quanto à minha intervenção, que alinha mais com o incrementalismo da proposta de João Ferrão do que com regiões ex-novo, acabou também por mostrar que o modelo de descentralização centralizada versus centralismo dependente tem os seus dias contados e que a plena mobilização dos recursos nacionais exige uma solução para a exaustão desse modelo.

Sem comentários:

Enviar um comentário