(Fonte: El País)
Desencadeada por uma investigação na Suiça sobre
branqueamento de capitais, a conta aí sedeada do ex-conselheiro da Comunidade
de Madrid (PP) Francisco Granados permitiu identificar uma vasta trama batizada
pelo nome de Operación Púnica. A trama é do tipo conhecido: amizades
empresariais, concessões de obras de favor realizadas por autarcas, comissões
envolvidas e branqueamento sofisticado dessas comissões envolvendo as próprias
empresas apoiadas, empresas artificiais e de intermediação. Como não podia
deixar de ser, o ADN do PP está largamente representado na rede estabelecida,
mas a companhia do PSOE faz-se notar: secretário técnico do turismo de Múrcia,
ex-alcalde de Cartagena e um município (Parla) da Comunidade de Madrid. Não é
tão representativa a presença de detidos do PSOE como a do PP, mas a verdade é
que estavam na rede.
Os montantes de obras ilegalmente atribuídas
(cerca de 250 milhões de euros) não apontam para uma operação gigantesca do
ponto de vista financeiro, pelo que o número de 51 detidos sugere provavelmente
a presença de arraia miúda, não estando nós ainda perante provavelmente o
coração do bloco central da corrupção. É verdade que não conhecemos o montante
global das comissões ilegais envolvidas, número que nos teria permitido
calcular o efeito alavanca (como agora se diz) da tramoia.
Em simultâneo descobriu-se ontem que o PP tinha
uma caixa b e que o partido tinha ilegalmente adquirido ações de um órgão de
comunicação chamado Libertad Digital. A questão traumática dos tesoureiros do
PP tende a transformar-se numa espécie de característica estrutural do partido.
O eternamente surpreendido Rajoy recorreu ao pedido de perdão no Senado
espanhol para dizer qualquer coisa sobre o assunto, o que começa a ser
entendido como uma solução fácil e de demasiado rápida mobilização.
Pela frequência com que os pedidos de perdão se
têm sucedido (a confissão alivia na cultura do PP), é provável que nos próximos
tempos os infelizes ou descarados tenham de optar por sujeições mais gravosas
(percorrer de joelhos o Valle de los Caídos, sujeitar-se a uma tomatada e
outras que a imaginação certamente doentia do leitor se encarregará de propor
ao infeliz).
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