A situação não é propriamente inédita pois, como António Costa nos vem recordando insistentemente nestes dias, já vamos no sexto ano consecutivo de barganha orçamental pura e dura (que mais parece uma espécie de regateio sujeito a uma metodologia abaixo de básica, ao qual se segue depois uma execução anual pingada e sem critério de racionalidade que não o estritamente contabilístico).
Todavia, o cansaço derivado da recorrência e a crescente falta de lisura para com os cidadãos que leva a que uns e outros aprofundem, com incríveis requintes de malvadez, pretextos idiotas e argumentos descabidos (quer perante a realidade objetiva da economia nacional quer em si mesmos — o PAN hoje já chegou ao cúmulo de pretender desligar o seu voto favorável ao OE da idade mínima de acesso a touradas!), num processo que só pode suscitar um desconfortável sentimento de vergonha alheia, vão tornando estes dias de apresentação do Orçamento numa coreografia algo pornográfica e completamente insuportável (do ministro — qual abóbora! — a acelerar para chegar à Assembleia uns minutos antes da meia-noite do dia D aos partidos de esquerda a procurarem mostrar um ao outro e ao povo quão mais caro vendem a sua capitulação — agarrem-me senão eu... —, não desvalorizando o arrogante cinismo com que o PS começa por encarar o assunto e a sua subsequente incorporação, então declarada obviamente óbvia, da maioria dos quesitos antes inadmissíveis exigidos pelos potenciais parceiros de geringonça ponto qualquer coisa).
Tenho sérias dúvidas de que um mínimo representativo de portugueses preste atenção a este espetáculo um tanto degradante e bastante indecoroso. Mas, em qualquer caso, penso também que já todos os principais protagonistas envolvidos tinham já obrigação de saber mais e fazer melhor. Até porque o final do filme não contém grande dose de suspense nem se apresenta sequer incerto.
Sim, tudo isto me faz lembrar Demagogia à Portuguesa de que há uns meses falava em https://mosaicosemportugues.blogspot.com/2021/03/demagogia-portuguesa.html, que o convido a visitar e a comentar.
ResponderEliminarTodos os Sábados, um novo artigo no Mosaicos em Português.
Bom fim-de-semana!