terça-feira, 5 de outubro de 2021

REMODELAR OU NÃO REMODELAR...

Desde 26 de setembro, António Costa passou a ter uma enorme razão de fundo para remodelar o seu aparentemente irremodelável Governo; e essa é a resultante desocupação pós-eleitoral do seu amigo e filho político dileto Fernando Medina, o qual tem condições, aliás, para contribuir com eficácia em vários planos da ação governativa. Depois das questões mais imediatas da negociação e aprovação do Orçamento de Estado, o primeiro-ministro pensará certamente no assunto.

 

Não obstante, a hipótese tê-lo-á assaltado com bastante premência na semana horribilis que foi a última. Senão vejamos: Pedro Nuno Santos a atirar-se (com propriedade e coragem) a João Leão, com este e o chefe de Governo a ficarem nas encolhas; João Gomes Cravinho a colocar em praça pública a sua intenção de demitir o chefe do Estado-Maior da Armada para nomear o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, com o Presidente da República a provocar uma retratação com estrondo e presença do primeiro-ministro (pode ser que me engane mas Gomes Cravinho já se terá decidido a abandonar o barco logo que lhe surja a oportunidade); Francisca Van Dunen a pronunciar-se com inaceitável candura e desresponsabilização quanto a “um resultado [a fuga de Rendeiro] que gera grande desconforto social e também desconforto entre os agentes da justiça”. Sem esquecer, obviamente, a permanente bomba-relógio que é Eduardo Cabrita, o qual muito tem agradecido ao Divino as tantas trapalhadas envolventes que assim o têm dispensado de comunicar publicamente a tal velocidade ainda por apurar do veículo em que seguia aquando do acidente que em junho vitimou um trabalhador na A6.

 

Mas, há que o reconhecer, a remodelação é fácil de equacionar e exigir mas não será de todo fácil de concretizar no terreno; isto porque já poucos ou nenhuns cidadãos competentes e de bom senso quererão ficar associados a uma governação em forte e dificilmente reversível plano inclinado. Haverá sempre o recurso a outros órfãos da Câmara Municipal de Lisboa e esse não deixará de ser um recurso a utilizar; ou até a António Costa Silva (que está por tudo!) e alguns dos seus colaboradores próximos. Sendo ainda que a remodelação devia ser algo mais do que um momento mediático com mudança de algumas caras e dança de algumas cadeiras; remodelar é ir à procura de fazer diferente e melhor, importando previamente saber-se o quê e como. Aqui chegados, acrescentaria apenas que o apreciável seria, isso sim, a constatação de uma inesperada e verdadeira cambalhota, capaz de trazer ao de cima alguma vontade (tão sincera quanto possível) de novos fôlegos, seja no plano do jogo político imediato seja no plano mais determinante de um reformismo proclamado mas recorrentemente amordaçado ao longo destes mais de vinte anos de século XXI e, por isso, também por reerguer nestes seis anos de taticismo murcho que arriscam deixar o saldo histórico do “costismo” reduzido a um período de continuada e lamentável promoção de um Portugal adiado.

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