domingo, 24 de outubro de 2021

VOLTAM OS EXCEDENTES E ADEUS A MERKEL

Está sorrateiramente de regresso o cenário macroeconómico europeu, feito de excedentes alemães adicionado de alguns apêndices menores. Um tema que Merkel, finalmente quase aliviada das exigentes funções que desempenhou durante dezasseis anos, não enfrentou estrategicamente (teria tido em algum momento condições para o fazer? E mãos suficientemente livres para tal?) nem muito menos o será no quadro do novo governo que lhe vai suceder (Scholz agirá como um chanceler preferencialmente orientado para a política nacional, ou nacionalista, e as matérias europeias também não terão primazia nas opções determinantes de Verdes e Liberais).

Na saída de Angela, quase tudo foram elogios (genericamente bastante merecidos), tendo ela tido ainda ocasião de exibir a sua presença calma e moderação (cito o “Financial Times”) no tocante ao modo de lidar com o conflito polaco. Não obstante, ainda houve quem lhe apontasse alguns dedos timidamente acusadores, entre falhas óbvias (que não muito graves), enviesamentos pró-germânicos mais dificilmente aceitáveis (veja-se a sua gestão especialíssima das relações com Putin) e hesitações e ausências estratégicas (que a História tenderá a esquecer à luz do diktat da realidade propriamente dita). Dito de outra maneira: enquanto a sua coroa de glória (progressista) terá estado na corajosa atuação que teve no dossiê dos migrantes e as dúvidas permanecem quanto ao seu posicionamento (mais taticamente inteligente do que errático?) durante a crise das dívidas soberanas (evitou uma grande rotura europeia mas não compreendeu de todo a plenitude dos malefícios austeritários), talvez que um balanço da passagem de Merkel seja associável a nada ter querido (ou podido) fazer em termos de uma consolidação mais sustentada da construção europeia.


(Marian Kamensky, https://cartoonmovement.com)


(Rayma Suprani, https://dalkeyga.com)



(Marian Kamensky, https://cartoonmovement.com)



(Klaus Stuttman, https://detv.us)

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