(Anne-Sophie Mutter é uma virtuosa do violino, descoberta e lançada por Karajan e isso bastaria, que gosto de ouvir mas que coloco ao nível de outras, tais como Viktoria Mullova, Hilary Hahn, Janine Jansen. Ou seja, não é a minha diva do violino e acho mesmo que não tenho nenhuma. O mesmo não pode dizer-se do piano. Aos 80 anos, Martha Argerich é a minha diva. Nos últimos tempos, como Martha já não toca a solo, não suportando a solidão do palco, quando a vi pela primeira vez na Gulbenkian tocou com Stephen Kovacevich, seu ex-marido, vários encontros têm sido possíveis, neles se destacando o encontro com a nossa Maria João Pires. Sou entretanto alertado para uma gravação que estará aí a rebentar com Anne-Sophie Mutter. E pelas palavras desta será um encontro promissor).
Anne-Sophie Mutter tem uma carreira desconcertante pelo facto do seu virtuosismo nunca ter merecido da crítica mais especializada o reconhecimento que a descoberta de Karajan e o seu trabalho continuado com André Previn, com quem esteve casada alguns anos na década de 2000, justificariam. Na sua entrevista ao ÍCON do El País (link aqui), realizada tendo como tema a gravação de um novo disco com John Williams, o célebre compositor americano do cinema contemporâneo, com o qual Anne-Sophie gravou um disco com a Filarmónica de Viena, ela aborda o tema com alguma frontalidade, discutindo em que termos a associação da sua presença no palco a imagens como ambiciosa, elegante e muito bela terão contribuído para a menos valorizadora perceção da sua qualidade artística.
Mas a razão determinante para ter trazido esta entrevista a este espaço de reflexão acontece na sua resposta a uma questão curiosa colocada pelo jornalista: “A perfeição resulta da expressão ou da precisão?”:
“Sempre da expressão. No outro dia, cumpri o meu sonho de gravar com Martha Argerich. Sempre a amei. É a deusa, fui a triliões dos seus concertos e em cada um deles, o meu filho Richard, que toca piano, e eu ficámos boquiabertos. Ao ouvi-la no primeiro ensaio, tornou-se-me quase impossível tocar, porque o que ela estava a fazer era tão brilhante, tão fresco, tão novo, que não queria interromper, queria ficar a escutá-la. A sua música é o topo de que ela se lança para todos. Não sabe enganar-se, é perfeita, mas se o fizer isso é o mesmo precisamente por isso.”
Sempre foi assim. Quem fala bem dos nossos …
Vou olhar seguramente de outra maneira para a Anne-Sophie, que venha esse disco o mais depressa possível. Entretanto, vou revisitar o seu concerto com John Williams e a Filarmónica de Viena.
Nota final:
Em termos de palco, imagino a beleza que terá sido ouvir Argerich, Anne-Sophie Mutter e Mischa Maysky tocarem em conjunto o Piano Trio no. 1 in D minor, Op.49 de Mendelssohn, num dos concertos que festejaram os 80 anos da Diva.
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