Agora que Emmanuel Macron já praticamente se decidiu a meter os pés ao caminho da sua campanha eleitoral visando uma reeleição em maio, embora mantendo ainda alguma hesitação quanto ao posicionamento estratégico e tático que irá adotar, começam também a vir ao de cima variadas análises relativas ao balanço do seu quinquenato.
No caso vertente, o que achei curioso trazer aqui a conhecimento foi a completa discrepância de leitura que resulta da utilização de um ou outro método de cálculo para aferir o impacto das medidas por ele tomadas sobre o nível de vida dos franceses, ora indiciando uma interpretação do “macronismo” como preferencialmente redistributivista (primeiro gráfico abaixo, proveniente do relatório anexo ao projeto de lei das Finanças para 2022 e assente na observação de um aumento relativamente mais importante do nível de vida nas camadas mais pobres da população — nomeadamente, um aumento médio de 4% do nível de vida dos 10% mais pobres contra apenas 2% para os 10% mais ricos) ora apontando o “macronismo” como preferencialmente orientado para favorecer os ricos (segundo gráfico abaixo, proveniente de cálculos do “Libération” e assentes nos valores absolutos em presença — ou seja, assim procurando subverter o lado enganoso associado aos percentuais, visto que uma parte maior de um valor pequeno é seguramente inferior a uma parte menor de um valor grande; no caso, e respetivamente, 1178 versus 346 euros de ganho anual médio, correspondendo a 22,1% versus 6,5% do bolo apurado).
Este “parece mas não é” ou, se preferirem, este “as aparências iludem” serve simultaneamente para chamar a atenção para o relativismo dos números que nos vão inundando de modo cada vez mais avassalador (reservas à tecnocracia e à sua apropriação política!) e, no tocante à ilustração francesa aqui referenciada, para nos levarem a perceber quanto Macron pode ter sido diferente do que prometeu e, por isso, se viu a braços com uma crise social de larguíssimo espetro e quase terminal para as suas ambições.
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