A política europeia — no sentido, leia-se, de referenciar a evolução política em curso em diversos Estados membros da União Europeia — tem vindo a revelar por estes dias sinais múltiplos de mudança e instabilidade em gestação.
Os casos mais chamativos foram os da Áustria, onde o seu jovem primeiro-ministro Sebastian Kurz se demitiu após abertura de uma investigação por suspeita de corrupção (mann ohne moral, assim o intitulou o maior diário alemão) e logo cedeu o lugar a um próximo (o ex-MNE Alexander Schallenberg) numa alegada “jogada à Putin”, da República Checa, onde o seu multimilionário primeiro-ministro Andrej Babis estava sob suspeita de apropriação indevida de fundos europeus e testou positivo aos “Pandora Papers” para logo depois perder à justa as eleições legislativas, e da Polónia, onde o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki é a cara mais visível de uma provocação à União Europeia por parte do regime comandado pelo partido “Lei e Justiça” (reacionário e eurocético) numa clara tentativa de afrontamento “à la Orbán” e visando dar expressão a lógicas autoritárias e nacionalistas que possam ajudar a forjar outros rumos europeus.
Este último caso, sem dúvida o mais potencialmente impactante face às ameaças algo ilusórias de um “Polexit”, está imbuído de uma limitação forte do lado dos provocadores: a indispensabilidade objetiva com que vivem no tocante a que não seja interrompido o seu acesso aos fundos comunitários. Isto sem prejuízo de eles se terem hoje mesmo decidido, numa cartada algo arriscada, pela formalização da publicação da decisão do Tribunal Constitucional local, e de se confrontarem com um crescente ruído proveniente dos líderes e do povo das grandes cidades, numa demonstração cabal nas ruas da sua vontade de que o país prossiga os seus caminhos em rota europeia.
Além do mais, é também alta a probabilidade de outros casos nacionais se virem a seguir nos próximos meses e anos, sobretudo com epicentro em mais países da Europa Central e Oriental (a precipitação daqueles alargamentos...). Sendo que tal é uma razão fortíssima para que as autoridades europeias não vacilem e seja afirmada como um must irredutível a sua firmeza na defesa dos princípios essenciais.
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