sábado, 23 de outubro de 2021

QUEM COM BONS OLHOS NOS VÊ …

 

(Thomas Philippon, Max L. Heine Professor of Finance at New York University, Stern School of Business)

(Do estudo promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, “Do made in ao created in, um novo paradigma para a economia portuguesa”, falarei um destes dias, aproveitando a oportunidade para salientar o papel proeminente que o economista Fernando Alexandre, professor na Universidade do Minho, vai assumindo no panorama intelectual económico português. Por hoje, gostaria de me fixar nas palavras de um dos economistas que integrou o grupo de conselheiros internacionais daquele estudo coordenado por Fernando Alexandre, Thomas Philippon na sua entrevista ao Expresso de hoje, suplemento de Economia.)

O tema do crescimento, seja do PIB efetivo na última década, seja do PIB potencial tem sido glosado de várias perspetivas, embora com uma narrativa predominante que consiste em apontar o dedo ao fraco desempenho da economia portuguesa em termos de crescimento. Já por repetidas vezes me referi ao assunto e tive oportunidade de sublinhar que a discussão tem sido travada sem o rigor suficiente em termos de fatores explicativos do crescimento. O argumento sustentado na discussão dos valores comparativos dos ritmos de crescimento atingidos pela economia portuguesa face aos campeões do crescimento na União Europeia parece-me pouco eloquente e até intelectualmente desonesto de algum modo. Essa abordagem não controla pelo que são fatores de crescimento específicos dessas economias e da própria economia portuguesa.

Essa matéria ocorreu-me de novo quando esta tarde lia o suplemento de Economia do Expresso de hoje, com foco na entrevista realizada ao economista francês Thomas Philippon, um francês claramente anglo-saxónico que faz parte do grupo de economistas conselheiros do interessante estudo coordenado por Fernando Alexandre para a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS)..

Philippon não é um economista qualquer e as opções de conselheiros da FFMS não são propriamente um convite a amigalhaços do Governo em funções. Não posso assim deixar de citar uma parte da referida entrevista:

Criar valor numa economia global é o tema da sua intervenção na conferência da Fundação Francisco Manuel dos Santos [FFMS]. Quais são as lições?

A conclusão é muito evidente: o único preditor robusto sobre se um país cresce rapidamente é a educação da população. Também é preciso olhar para o investimento das empresas, mas é menos importante. Isto tem uma forte conexão com Portugal. A primeira vez que olhei para os dados sobre a economia portuguesa, no início dos anos 2000, era óbvio que a grande diferença entre Portugal e o resto da Europa era a educação, onde Portugal estava muito mais atrás.

Portugal evoluiu muito nessa área?

É uma história de sucesso impressionante. É isso que está a transformar a economia portuguesa. As pessoas queixam-se de que as reformas não funcionam, mas este é um exemplo em que o problema foi identificado, foram tomadas decisões políticas e 20 anos depois é um grande sucesso.

Mas não devíamos esperar um crescimento mais forte, dado o enorme salto nas qualificações?

A estagnação nos anos 2000 foi antes do grande impulso na educação. Depois, a crise da dívida foi um desastre para o Sul da Europa. Mas nos anos recentes vimos mais convergência. A velocidade absoluta a que a economia se expande depende da China, dos Estados Unidos e do resto da Europa. Mas a velocidade relativa depende de Portugal, e aí vemos convergência. E acho que vai acontecer cada vez mais no futuro. O sucesso de Portugal na educação vai traduzir-se em crescimento mais elevado nos próximos 20 anos. Também tem tido muito sucesso na Europa na política de concorrência, onde tem feito muito melhor do que os Estados Unidos.”

Apetece-me dizer que os observadores internos e externos da economia portuguesa não devem estar a usar as mesmas lentes para observar e interpretar a economia portuguesa e as suas perspetivas de crescimento. Fico assim sem perceber se tudo isso é um problema de bons olhos ou de lentes diferentes.

Sem comentários:

Enviar um comentário