sexta-feira, 29 de outubro de 2021

NA GULBENKIAN

 

(Há longo tempo que hesitava na ida a um concerto, tamanho foi o efeito reflexo que a pandemia e os confinamentos determinaram. Hoje, um dos nossos intelectuais mais assumidos, António Guerreiro, no ÍPSILON do Público, chamava a atenção com fino rigor de que nos próximos tempos será praticamente impossível “decretar” o pós-COVID. Nesse contexto, ficar mais tempo arredado do simbolismo de um concerto pareceu-me descabido. Calhou ser na Gulbenkian, a Casa da Música que me perdoe e não me arrependi. Tenho de confessar que a minha escolha por este programa se deveu à presença de Lisa Batiashvili, uma violinista de que gosto muito. Quis o destino que, por motivos que desconheço, a Lisa Batiashvili não pôde estar presente e acabou por ser substituído por uma jovem promessa do violino, Daniel Lazokovich, Concerto para Violino e Orquestra n.º 1, em Sol menor, op. 26 de Max Bruch, um compositor do romantismo tardio ou do último romantismo.

 

Retirando alguns idiotas, regra geral de idade mais avançada, que insistem em manter a máscara fora do nariz, o concerto só me trouxe surpresas para a minha inacabada e tardia formação musical, sempre com a orientação entusiasta de Lorenzo Viotti, que passou de maestro titular a maestro convidado:

  • A abertura da ópera Oberon de Carl Maria von Weber;
  • Um deslumbrante Concerto para Violino e Orquestra n.º 1, em Sol menor, op. 26 de Max Bruch, um complemento de formação precioso pois praticamente desconhecia a importância de Bruch no romantismo;
  • E, finalmente, uma preciosa obra de Richard Strauss para 23 instrumentos de cordas, Metamorfoses.

Nunca tinha visto o auditório da Gulbenkian tão empolgado. Talvez porque, tal como eu, a recuperação do simbolismo de um concerto, mesmo sem o pós-CVID estar decretado, estava ali a ser conseguido. E sobretudo a certeza de ter de seguir Daniel Lazokovich. Quanto à Lisa Batiashvili fica para outro dia.

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