O “El País” tem seguido com algum cuidado e atenção o que se vai passando na política portuguesa. Chama-lhe “vertigem”.
Sendo que, nós por cá, vamos sendo acrescidamente inundados por análises e contra-análises a um ritmo alucinante e absolutamente impeditivo de uma leitura minimamente objetiva e ponderada. Não quererei entrar muito por ai, não necessariamente por subscrever a opinião de Catarina Martins em entrevista ao “Expresso” (“não interessa a ninguém fazer autópsias”), mas principalmente porque a fase atual do processo é já a de uma pré-campanha eleitoral em que o passa-culpas e a autodefesa imperam sob os mais diversos planos argumentativos — basta ouvir Louçã a declarar a sua certeza de que tudo isto proveio de uma irresistível vontade de Costa em chegar a uma maioria absoluta, por um lado, ou Augusto Santos Silva e outros socialistas a acusarem a esquerda à sua esquerda de uma tomada de posição incompreensível e antipatriótica, por outro. Enquanto Costa já fez o delete do passado recente para se colocar em modo integralmente eleitoral (para o que até Leão vai ter de abrir mais os cordões à bolsa).
À direita, impera a bagunça. Com o CDS em completa desorientação — Chicão é mesmo o coveiro de um partido que perdeu a sua razão de ser, enquanto Nuno Melo alcançou finalmente uma auréola, a da resistência em nome da dignidade, que ninguém verdadeiramente lhe reconhece — e o PSD em jogos de bastidores que culminarão no Conselho Nacional do próximo sábado — Rangel corre contra o tempo e procura somar apoios, sobretudo de pessoas credíveis e com pensamento, e Rio esgrime argumentos razoáveis (a desunião do partido neste momento em que a unidade seria determinante) mas provavelmente tardios. Em paralelo, “Chega” e “Iniciativa Liberal” ganham razões de motivação e esperança num bom resultado, embora não esteja muito certo de que a luta do PSD não possa roubar-lhes boa parte desse capital que muitos dão por adquirido.
As minhas sondagens de rua, por fim, são algo contraditórias: há os que acham que agora só faz sentido votar em Costa e tudo o mais é conversa sem sentido (até para castigar devidamente a “traição” do Bloco e do PCP), os que pensam que a “Iniciativa Liberal” é o voto útil das próximas eleições (para dar força aos liberais numa potencial hipótese de coligação com um PSD insuficientemente vencedor), os que entendem que a manutenção do status quo seria a melhor solução e a única capaz de viabilizar uma “geringonça” recauchutada e os que fazem figas por uma qualquer espécie de Bloco Central excecional (Teresa de Sousa chama-lhe “informal” no “Público” de hoje) para garantir uma recuperação económica mais consistente.
De Marcelo, prefiro nem falar!
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