O meu post de hoje corresponde a uma singela homenagem a Paulo Rangel. Não tanto, como é óbvio, por pretender ter alguma interferência ativa no confronto interno que se desenha no PSD, mas sobretudo porque o homem, depois de tantos calculistas e frustrados ensaios tentativos, finalmente se assumiu.
Será cedo para tecer comentários definitivos quanto ao que dali virá, até porque tudo diferirá consoante Rio vá à luta ou prefira meter a viola ao saco. Mas podemos desde já inferir algo, para o bom e para o mau, a partir de quem tem sido o Rangel que se nos vem apresentando durante estas suas quase duas décadas de exercício político — enquanto, do lado das qualidades, sobressai alguma densidade de pensamento que deve ser valorizada (especialmente dada a apagada e vil vulgaridade intelectual dos protagonistas políticos que temos vindo a ter de suportar), do lado dos defeitos sobressaem diversos momentos da sua história política que não serão facilmente compagináveis com a plenitude da palavra decência.
Por ora, e impulsionado pelo entusiasmo dos nossos opinion makers, opto por me limitar ao discurso direto da sua apresentação de candidatura, com particular ênfase na passagem em que procurava traçar o perfil da sociedade portuguesa. Assim: “Por muito que nos custe, Portugal é ainda uma sociedade aristocrática, tipicamente elitista, com grande resistência à mobilidade e à ascensão social, com elevados níveis de reprodução e ampliação das elites, das elites de todo o tipo: económicas, sociais, culturais”.
Entretanto, e enquanto toda a esquerda não deixará de continuar envolvida durante mais alguns dias no seu irritante jogo de dramatização e chantagem recíproca (haverá alguma ponta de vontade de alguma das partes em levar a coisa até às últimas consequências? Será Costa, aparentemente de crista baixa, o jogador afinal mais exímio no bluff?), teremos de esperar sem ansiedade pela autorreflexão de Rio e subsequente fala (apelará ao povo laranja e à sua melhor capacidade de enfurecimento ou mandará o partido às malvas para gozar de uma merecida reforma entre o Porto e a Amorosa?) para depois melhor ajuizarmos sobre se esta pouco carismática hipótese de liderança “rangelista” tem verdadeiras pernas para andar, conjugando a densificação da sua proposta, a decisiva componente teórico-prática que fará emergir e as companhias que o candidato escolherá.
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