sábado, 28 de janeiro de 2023

A MÁ MOEDA DO BOM EVENTO

(cartoons: Luís Afonso, “Bartoon”, https://www.publico.pt e excerto de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt

Já não se aguenta a balbúrdia que se gerou a partir do altar-palco que receberá o Papa em agosto, ninguém verdadeiramente se entendendo quanto aos mínimos de esclarecimento que são devidos pelos diferentes protagonistas envolvidos nem conseguindo a comunicação social ter a destreza e competência suficiente para evitar engolir as chachadas que lhe metem pela cabeça dentro (do retorno ao lucro) e conseguir colocar as questões que afinal se impõem. Designadamente a da deliberada mistura entre a dimensão grande evento que está necessariamente em causa e a dimensão regeneração urbana que não tinha necessariamente de o estar (nem de fazer do rio Trancão um “rio mártir”, citando Sérgio Sousa Pinto). Passando por cima da recuperação desse especialista feito à pressa que é Álvaro Covões (promotor de espetáculos com interesses na “Everything is New”), nomeado para a Unidade de Missão da Jornada Mundial da Juventude tão-logo se pronunciou admirador do palco e seguro da sua fantástica utilidade futura. Tudo isto com o Governo, e especialmente Costa e Medina, calados que nem ratos a assistirem confortavelmente do seu sofá às atabalhoadas reações de Moedas, do Presidente e da Igreja (apesar do discurso hábil de D. Américo Aguiar).


Mas interessa-me focar no político que, podendo estar em condições de ser o personagem mais beneficiado porque menos culpado da triste situação em presença, aparece inacreditavelmente a tentar falar grosso (tanto quanto lhe é possível, claro) e a apresentar-se histericamente (dando o corpo às balas com coragem, cito o próprio) como o garante último do “maior evento das nossas vidas” (cada um tem o mundo que merece!); assim mostrando uma faceta que lhe suspeitáramos desde a campanha eleitoral e nos seus comícios partidários: a de um político muito ambicioso mas tenrinho, bem longe da imagem de serenidade e seriedade que conseguira construir na sua passagem pela Comissão em Bruxelas.



Quanto ao mais, Ana Sá Lopes veio entretanto completar Andreia Sanches (“incapacidade de planear”) ao referir tudo o que ainda faltava sublinhar: “saloios e deslumbrados, é o que somos, nada a fazer!”. E cá vamos canto e rindo, como escrevi com dois amigos num livro de denúncia e procura de outros caminhos, “de grande projeto em grande projeto” nessa fúria desenganada de alimentarmos a crescente ficção de “um modelo económico construído na saudade da grandeza passada”.

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