domingo, 1 de janeiro de 2023

O DECLÍNIO BRITÂNICO

 


(A estagnação ou o crescimento económico anémico da economia portuguesa, com exceção mais evidente do ano de 2022, têm sido invocados como indicador do péssimo resultado da governação socialista. Mas curiosamente, pouco ou nada se tem escrito ou debatido do ponto de vista da direita liberal sobre o declínio impressionante que o Reino Unido vem evidenciando em tempos de governação liberal conservadora, de um país com moeda própria. Adam Tooze no seu magnífico CHARTBOOK dedicou em fim de ano uma ampla reflexão sobre o tema (link aqui), à qual Brad DeLong acrescentou algumas considerações muito pertinentes (link aqui).

 

O tema do declínio britânico visto segundo as lentes do longo prazo em economia não é exatamente a perspetiva que me interessa discutir neste post, uma vez que nos levaria demasiado longe para o âmbito destas reflexões. Interessa-me sobretudo a evolução do declínio neste milénio, porque a posso associar à presença da governação liberal conservadora.

Os números disponíveis são de facto impressionantes.

A evolução do rendimento mediano por habitante à paridade dos poderes de compra evidencia bem a tese do declínio. Os números do gráfico produzido pelo Economist começam no ano 2000, mas as diferenças já existentes nesse ano entre o Reino Unido e os países como a Alemanha, a França, o Canadá ou os EUA sugerem a que a questão do declínio mais estrutural, anterior ao início deste milénio não é para ser ignorada.

Por isso, o gráfico publicado pelo Institute of Fiscal Studies é esclarecedor, pois é essencialmente a partir de 2008-2008 que o comportamento do rendimento real disponível se afasta da tendência traçada desde 1948, antecipando que para 2026 o valor dessa variável estará 32% abaixo do valor que estaria em linha com a tendência.

 

Sem querer esgotar o post em considerações anteriores ao início do milénio, os cálculos realizados por Tim Jackson e divulgados or Adam Tooze mostram que é sobretudo a partir dos anos 70 do século passado que a produtividade do trabalho se afunda em matéria de crescimento anual, mas caindo a pique depois de 2007-2008.

 

(https://www.ft.com/content/b2154c20-c9d0-4209-9a47-95d114d31f2b)

Mas a informação mais significativa divulgada por Tooze vem do Economist. Ela mostra para um determinado conjunto de variáveis, tais como a despesa pública, a despesa pública em saúde em % do PIB, o investimento público em % do PIB e a formação bruta de capital fixo no setor da saúde, a diferença de comportamentos em tempos de governos trabalhistas e de governos conservadores. A austeridade conservadora como que congelou a sociedade britânica, degradando os serviços públicos além do aceitável, reduzindo substancialmente a capacidade de intervenção pública quando ela se tornou necessária. A novela que levou à saída de Johnson, à passagem meteórica de Liz Truss pelo Governo e a chegada de Sunak não pode ser explicada a não ser por esta brutal redução de capacidade de intervenção pública, puramente ideológica e de casta política.

É por isso que, pertinentemente, Brad DeLong associa o hoje não agora apenas declínio relativo mas também absoluto, a um conjunto de maleitas consentidas pelos conservadores que exigiriam, em seu entender, o inverso das brilhantes ideias que os Tories ofereceram aos britânicos: (i) reverter a austeridade; (ii) tornar de novo os impostos mais progressivos; (iii) conceder prioridade à educação; (iv) regressar à União Europeia; (iv) reforçar o apoio do governo à inivação tecnológica e à engenharia; (vi) apoia a Grande Londres; (vii) taxar os ricos da Grande Londres para reconstruir a modernização de infraestruturas de que o Reino Unido tanto necessita.

Ou seja, qualquer tentativa para consertar a devastação a que a ideologia conservadora e de cast conduziu o Reino Unido, conservadora ou trabalhista, exigirá da parte da primeira solução defender o contrário do que os seus antecessores fizeram (o que dificilmente Sunak conseguirá) e da parte dos segundos uma clareza de pontos de vista de que o Labour tem andado nos tempos mais recentes totalmente arredado.

O que significa que os Britânicos estão em apuros, o que equivalerá que terão de aprender a viver não com as ilusões do regresso do Império, mas antes com a vivência do declínio não apenas relativo. E assim se demonstra que, mais uma vez, a reconstrução social liberal e conservadora acaba mal.

 

 

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