(Quando o trabalho aperta menos, a sexta feira já faz parte do meu fim de semana, acho que o mereço e por isso costumo aproveitar para atualizar consumos culturais, não necessariamente repondo os materiais em espera no seu nível zero, mas pelo menos recuperando algum atraso. É hoje esse o caso, focando-me na música, com relevo para três discos relativamente recentes, é isso que me documentam as revistas que me acompanham nessa inglória tentativa de acompanhar o que de novo vai saindo, a DIAPASON e a BBC Music. E como conservador nestas coisas dos dispositivos de audição, embora o TIDAL me ajude em algumas coisas muito específicas, são os velhos CDs e Vinys que me despertam. Temos assim um post de sugestões musicais. Não as vejam como exemplo de qualquer arrogância de gosto cultural, mas simplesmente como prazer da partilha, já que cheguei a elas também por via de uma outra partilha, a dos críticos especializados que umas vezes rejeito, outras tenho de concordar que são preciosas.
Vou-me concentrar em três pianistas de eleição, em estádios diferentes de evolução da sua carreira. O piano continua a fascinar-me, já que o Aladino não me visitou com a benesse de saber tocar piano e por esse motivo tem de ser por via sensorial que vou já tardiamente construindo a minha formação musical.
Vou começar pelo pianista mais prestigiado, talvez entre os pianistas vivos o mais sofisticado e rigoroso, sobretudo com o próprio equipamento, o polaco Krystian Zimerman. Quando o vi na Casa da Música, já se me varreu a memória da data, resta a memória de uma fabulosa Marcha Fúnebre de Chopin que deixou o auditório da Suggia maravilhado, dizia-se que Zimerman era tão rigoroso e perfeccionista com o equipamento que se fazia acompanhar pelo seu, sistematicamente adaptado aos diversos concertos. Contava-se na altura que estava familiarmente ligado a construtores e afinadores de pianos, pelo que tinha desenvolvido essa especial apetência pela perfeição da máquina. A biografia que a sua editora, a Deutsche Grammophon lhe dedica refere: “(…) está inapelavelmente ligado ao seu conhecimento sobre a mecânica e estrutura do instrumento. Desenvolveu competências práticas como construtor de pianos e de técnico de teclados durante os anos da sua formação e refinou esse conhecimento numa cooperação estreita com a Steinway & Sons em Hamburgo”.
Depois de um disco com o maestro Sir Simon Rattle com os concertos para piano de Beethoven abaixo das expectativas, que deixou muito zangado o nosso contundente crítico Augusto M. Seabra, Zimerman regressa com a divulgação da obra para piano do compositor polaco Karol Szymanowski, obra relativamente ofuscada pela de Chopin, gravada em outubro de 2022, por isso muito fresquinho. A cuidada edição da Deutsche refere que foi com a sua aproximação a Arthur Rubinstein que Zimmerman conheceu mais de perto a obra de Szymanowsky, já que Rubistein era um excelente conhecedor de toda a obra do polaco. É um disco excelente para se conhecer a obra do autor polaco para piano e tem a particularidade de ter tido o contributo do grande amigo de Zimerman, o japonês Yasuhisa Toyota, um dos grandes especialistas acústicos do nosso tempo e que Zimerman muito considera no âmbito da sua obsessão perfeccionista com o som que consegue extrair do instrumento.
A segunda referência é a de Paul Lewis e mais um regresso a Schubert, neste caso para conhecer melhor três sonatas, a D537, a D568 e a D664, com relevo especial para a D537 composta aos 20 anos. Também não se arrependerão com esta escolha, sobretudo para os schubertianos como eu.
E para completar os meus parcos conhecimentos sobre Debussy, Steven Osborne um pianista de que gosto cada vez mais, propõe-nos um confronto entre peças mais pioneiras e peças mais tardias do compositor francês num disco da Hyperíon, que vale sobretudo a pena para os que queiram conhecer melhor o compositor francês.
Fora da chamada música clássica, tenho de referir que me impressionou fortemente a qualidade musical e de edição do novo disco dos The GIFT, CORAL. Uma preciosidade literária e musical, que vá lá saber-se porquê teve apoio do COMPETE e do PT2030, editado pela La Follie Records. Vale a pena.
Sem comentários:
Enviar um comentário