sábado, 21 de janeiro de 2023

SEM REI NEM ROQUE...

 

Volto a um exercício que não é inédito neste espaço: o de elaborar um pouco em torno das parangonas dos últimos dias enquanto sintomas de quanto “Isto” prossegue sem rei nem roque (como se diz na velha expressão popular). Embora decidindo deixar de lado o que, otimisticamente, poderíamos considerar como uma espécie de outliers, a saber, os “casos e casinhos” que repetidamente têm afetado o Governo e as situações de corrupção aparentemente clara e chocantemente infantilizada (como aquela que parece ter invadido os meios políticos da bela cidade de Espinho ― vejam-se abaixo duas manchetes que, pelo seu grau de aberração, disso são profundamente esclarecedoras).

 

Atente-se nos cinco grandes blocos que elegi e que de algum modo tocam a todos: (i) o “Público” informou os portugueses que a A3ES decidira autorizar um segundo curso privado de Medicina no Porto (matéria melindrosa!), uma decisão que surgiu após um processo que dava para escrever uma enciclopédia do que não deve acontecer numa sociedade aberta e democrática, para logo nos dois dias imediatos se saber que o Hospital de Gaia se tinha afastado de tal processo e que, afinal, só iriam existir dez vagas para alunos nacionais; (ii) soube-se pelo “Jornal de Notícias” que o Tribunal de Contas, sempre tão fundamentalista e burocraticamente estruturado nos seus procedimentos objetivamente limitadores da atividade económica e social, fez, nos últimos quinze anos, quase três quartos das suas compras por ajuste direto ― olha para o que eu digo...; (iii) depois de muitas e quase pornográficas vicissitudes ocorridas ao longo de anos, o Governo decidiu-se por nomear uma comissão independente no sentido de contribuir para a escolha da localização do novo aeroporto de Lisboa a partir de um conjunto de opções possíveis e logo a coordenadora da mesma vem afirmar que admite riscar algumas daquelas (certamente porque talvez sejam do foro da inteira ilusão ou da completa diversão política), logo surgindo entretanto o ressuscitado e malicioso Miguel Relvas a perguntar de quem são os terrenos de Alcochete; (iv) a TAP, sempre no olho do furacão, foi atingida pelo incidente da indemnização de Alexandra Reis, arrastando esta a de Pedro Nuno Santos, para na imediata decorrência vir a lume que já tinham existido indemnizações maiores no passado recente (sob a tutela do dito Relvas), o que a administração decidiu apurar através de mais uma bem paga auditoria externa enquanto os trabalhadores avançam para mais uma greve ruinosa (justiça da mesma à parte) e o Governo parece determinado a evoluir desta vez para uma venda total da empresa (com a correspondente perda financeira brutal que se pressente e o ministro da Economia a mostrar-se estranhamente espanholado em relação a ela); (v) os professores protestam nas ruas, com inteira razão quanto ao essencial, com o Governo de rabo entre as pernas a procurar minimizar danos (já que manifestamente não há capacidade orçamental para tudo), sendo que as greves dos professores se repercutem com especial força no elo fraco que são os alunos sem aulas e as famílias sem soluções perante as suas afetadas vidas.

 

Perdições deploráveis e bem indicativas de uma sociedade doente e bloqueada...


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