quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

AGUARELA DO BRASIL (V)

Cumpridas em pleno as formalidades de Brasília, e para que a deslocação também contivesse uma dimensão mais estritamente pessoal, impunha-se uma saltada ao Rio de Janeiro para dois dias e meio de higienização de cabeça, aquecimento do corpo e algum revivalismo. Com efeito, e depois de um período de amiudadas visitas, não ia ao Rio desde a passagem do ano de 2014 para 2015, não só porque o justificativo enquadramento profissional mudou entretanto mas também porque o apelo foi esmorecendo com as tristes notícias que iam chegando desses anos de Dilma, Temer e Bolsonaro.

 

O Rio recebeu, entretanto, os Jogos Olímpicos e por lá são visíveis alguns sinais desse facto, quer na hotelaria e restauração quer em algumas componentes mais cosmopolitas do ambiente urbano; sem que, no entanto, o essencial deste tenha sofrido alterações de grande monta, na limpeza das ruas, numa pobreza indisfarçada,  na prevalecente dimensão securitária, nos quotidianos percebidos. Depois de uma opção pontual por ficar no Centro, voltei a instalar-me na Zona Sul (onde o meu preferido hotel de São Paulo, o Emiliano, abriu uma “sucursal”) e a experimentar todo o “bem-bom” daquela magnífica corda que vai do Leme à Barra, passando por Copacabana, pelo Arpoador e por Ipanema e Leblon, sem esquecer a atratividade das ruas interiores (com a dominância da Visconde de Pirajá) cada vez mais cheias de uma combinação de jardins com irresistíveis lojas de marca brasileiras com conceitos originais (como a Farm, a Osklen, a Havaianas ou a Armadillo) e a constante presença da excelente Livraria da Travessa e do bar que leva o nome que Vinicius consagrou (Garota de Ipanema). Mas não deixei de dar também uma obrigatória fugida ao Centro (Avenida Rio Branco, Rua do Ouvidor, Praça Tiradentes, etc.), onde o Rio é claramente mais o Rio das gentes cariocas e se localizam os edifícios mais historicamente famosos da cidade, embora tenha desistido de me voltar a sentar na icónica Confeitaria Colombo (porque uma discutível lógica turística lhe infernizou o acesso com filas infindáveis de visitantes). Como também não deixei de reter a acrescida centralidade vivencial da zona da Lagoa, do Jardim Botânico e da Gávea (onde imperam uma maior calma e magníficos parques e espaços verdes), aliás muito bem ressaltada na quantidade e qualidade dos restaurantes (a minha experiência pessoal, necessariamente muito delimitada, recomendar-vos-ia o risotto de ossobuco do Grado e a picanha do Braseiro da Gávea) e locais de convívio que por ali vão pululando.

 

Foi enorme o prazer que retirei destes dias de completa fruição, não sem que a ele se tenham vindo juntar vários tipos de mixed feelings que nunca tão conscientemente experimentara em anteriores passagens pela “cidade maravilhosa”. Será dos meus olhos e dos anos que correm ou tratar-se-á verdadeiramente da inapelável força da dura realidade em si mesma?

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